Aclamado pela crítica, filme que fez Daniel Craig ser descoberto para James Bond está na Netflix Divulgação / Sony Pictures

Aclamado pela crítica, filme que fez Daniel Craig ser descoberto para James Bond está na Netflix

Matthew Vaughn trabalhou como produtor em vários filmes de Guy Ritchie, entre eles “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” e “Snatch — Porcos e Diamantes”. A experiência ao lado do cineasta veterano e autoral lhe rendeu inspiração para sua primeira assinatura em uma direção em “Nem Tudo é o Que Parece”, de 2004. Com influências de Ritchie que vão do figurino à montagem, é impossível não confundir este trabalho com uma de suas obras.  Na verdade, o filme havia sido oferecido para Ritchie, que o recusou, abrindo caminho para Vaughn. Aos poucos, Matthew Vaughn adquiriu experiência e estilo suficientes para assinar a famosa franquia de “Kingsman”.

Começar com “Nem Tudo é o Que Parece” é um mérito e tanto. Aclamado pela crítica e um dos papeis mais importantes da carreira de Daniel Craig, foi graças ao filme de Vaughn que o ator foi descoberto pela produtora Barbara Broccoli, que foi quem o escolheu para interpretar James Bond nos cinemas, valorizando seu passe e o colocando no radar global. Craig estava com apenas 36 anos neste filme, mas aparentava mais. O que foi vantajoso para conquistar o ambicionado papel do agente secreto mais famoso das telonas.

De volta ao filme de Vaughn, “Nem Tudo é o Que Parece” é bastante dinâmico, divertido e perspicaz. Com toque de humor ácido, ação, gângster e espionagem, o enredo gira em torno do personagem de Craig, um homem cujo nome nunca é revelado e que trabalha como traficante em um grande cartel. Já rico o bastante para desistir da vida no crime e se aposentar, ele é recrutado por seu chefe, Jimmy Price (Kenneth Cranham), para um último trabalho.

Price afirma estar incumbindo-o da missão em nome de um amigo de escola, Eddie Temple (Michael Gambon), outro chefe do crime. O trabalho é encontrar a filha deste homem, uma jovem viciada em drogas, que teria fugido da clínica de reabilitação com seu namorado, um suposto marginal. O personagem de Craig questiona  as razões de ter sido escolhido para a missão, já que não tem experiência como detetive, mas o preço oferecido por Price o convence. No entanto, as coisas tomam rumos completamente inesperados quando uma série de reviravoltas ocorre.

O filme foi inspirado em um livro homônimo publicado pouco antes das gravações, escrito por J.J. Connolly. A obra literária logo ganhou rápido destaque, embora tenha sido o primeiro livro assinado pelo autor. Connolly e Vaughn acabaram se conhecendo acidentalmente em um trem, pouco depois do cineasta receber a proposta de produzir “Nem Tudo é o Que Parece”. Foi uma coincidência que o diretor descreve como “mais estranha que a ficção”. Connolly esmiuça o submundo do crime em seu livro de forma bastante detalhada e minuciosa, mas afirma que tirou tudo de dentro de sua cabeça e que trabalha há anos em uma floricultura, embora saiba bastante sobre crimes e poucos sobre flores, conforme Vaughn contou em uma entrevista.

O livro deu tão certo, que em 2011, Connolly publicou sua continuação, chamada de “Viva La Madness”, onde retoma de onde o primeiro parou. O narrador sem nome é novamente recrutado para fechar um grande negócio em Londres. Uma série de televisão sobre a sequência, com Jason Statham, chegou a ser cogitada entre 2015 e 2017, mas nunca chegou a ir ao ar.


Filme: Nem Tudo é o Que Parece
Direção: Matthew Vaughn
Ano: 2004
Gênero: Crime/Ação/Comédia/Policial
Nota: 9/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.