Matthew Vaughn trabalhou como produtor em vários filmes de Guy Ritchie, entre eles “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” e “Snatch — Porcos e Diamantes”. A experiência ao lado do cineasta veterano e autoral lhe rendeu inspiração para sua primeira assinatura em uma direção em “Nem Tudo é o Que Parece”, de 2004. Com influências de Ritchie que vão do figurino à montagem, é impossível não confundir este trabalho com uma de suas obras. Na verdade, o filme havia sido oferecido para Ritchie, que o recusou, abrindo caminho para Vaughn. Aos poucos, Matthew Vaughn adquiriu experiência e estilo suficientes para assinar a famosa franquia de “Kingsman”.
Começar com “Nem Tudo é o Que Parece” é um mérito e tanto. Aclamado pela crítica e um dos papeis mais importantes da carreira de Daniel Craig, foi graças ao filme de Vaughn que o ator foi descoberto pela produtora Barbara Broccoli, que foi quem o escolheu para interpretar James Bond nos cinemas, valorizando seu passe e o colocando no radar global. Craig estava com apenas 36 anos neste filme, mas aparentava mais. O que foi vantajoso para conquistar o ambicionado papel do agente secreto mais famoso das telonas.
De volta ao filme de Vaughn, “Nem Tudo é o Que Parece” é bastante dinâmico, divertido e perspicaz. Com toque de humor ácido, ação, gângster e espionagem, o enredo gira em torno do personagem de Craig, um homem cujo nome nunca é revelado e que trabalha como traficante em um grande cartel. Já rico o bastante para desistir da vida no crime e se aposentar, ele é recrutado por seu chefe, Jimmy Price (Kenneth Cranham), para um último trabalho.
Price afirma estar incumbindo-o da missão em nome de um amigo de escola, Eddie Temple (Michael Gambon), outro chefe do crime. O trabalho é encontrar a filha deste homem, uma jovem viciada em drogas, que teria fugido da clínica de reabilitação com seu namorado, um suposto marginal. O personagem de Craig questiona as razões de ter sido escolhido para a missão, já que não tem experiência como detetive, mas o preço oferecido por Price o convence. No entanto, as coisas tomam rumos completamente inesperados quando uma série de reviravoltas ocorre.
O filme foi inspirado em um livro homônimo publicado pouco antes das gravações, escrito por J.J. Connolly. A obra literária logo ganhou rápido destaque, embora tenha sido o primeiro livro assinado pelo autor. Connolly e Vaughn acabaram se conhecendo acidentalmente em um trem, pouco depois do cineasta receber a proposta de produzir “Nem Tudo é o Que Parece”. Foi uma coincidência que o diretor descreve como “mais estranha que a ficção”. Connolly esmiuça o submundo do crime em seu livro de forma bastante detalhada e minuciosa, mas afirma que tirou tudo de dentro de sua cabeça e que trabalha há anos em uma floricultura, embora saiba bastante sobre crimes e poucos sobre flores, conforme Vaughn contou em uma entrevista.
O livro deu tão certo, que em 2011, Connolly publicou sua continuação, chamada de “Viva La Madness”, onde retoma de onde o primeiro parou. O narrador sem nome é novamente recrutado para fechar um grande negócio em Londres. Uma série de televisão sobre a sequência, com Jason Statham, chegou a ser cogitada entre 2015 e 2017, mas nunca chegou a ir ao ar.
Filme: Nem Tudo é o Que Parece
Direção: Matthew Vaughn
Ano: 2004
Gênero: Crime/Ação/Comédia/Policial
Nota: 9/10