Sequência de uma das franquias mais famosas das últimas duas décadas está na Netflix Divulgação / Twisted Pictures

Sequência de uma das franquias mais famosas das últimas duas décadas está na Netflix

Pela sequência de abertura, tem-se uma impressão bastante equivocada de “Jogos Mortais: Jigsaw”, a oitava produção da franquia de dez longas (!) sobre um assassino em série que se esconde por trás de uma máscara de porco e que trucida seus desafetos num portentoso moedor de carne. Mas aos poucos, como se a história entrasse num túnel comprido, abafadiço, profundo, o filme de Michael e Peter Spierig rende-se às iterações mais enfarosas, ao lugar-comum mais elementar, até que mesmo o espectador mais aficionado deseje procurar uma brincadeira melhor. Dois diretores para o que “Jigsaw” pode oferecer é um brutal desperdício, de dinheiro, de tempo e de talento, embora se consiga encontrar, muito rarefeitamente, passagens que não agastam tanto a audiência já iniciada no gênero. O restante quiçá se tenha fixado no enredo quando de sua exibição nos cinemas, ocasião perfeita para que a mágica aconteça sem lacunas e sem margem para dispersões, exatamente como pedem essas tramas cruentas, raivosas e absurdas.

John Kramer é um pândego. O maníaco interpretado por Tobin Bell parte para cima de suas vítimas como uma fera selvagem, mas encontra ânimo para fazê-las padecer das sevícias as mais hediondas, planejadas com toda a frieza, num galpão abandonado onde, haja licença poética, dispõe dos sofisticados aparelhos que reluzem conforme a câmera se aproxima. A fotografia de Ben Nott está sempre buscando esse contraponto lúdico, que tem o poder de quebrar a monotonia dos tons demasiado sombrios que a história pede, muito antes do facínora ser revelado, de modo um tanto atabalhoado, na metade do terceiro ato, com o epílogo já chegando. O roteiro de Josh Stolberg e Pete Goldfinger se esforça por sacudir a pasmaceira na introdução, especialmente nas cenas em que o departamento de polícia se empenha em desvendar a motivação de Jigsaw, de fato um quebra-cabeça, e quais podem ser seus próximos movimentos. A evidência de que o matador crava pen-drives nos cadáveres de suas presas, informando quantos ainda pretende matar é uma provocação a que os detetives Logan Nelson, Keith Hunt e Halloran não conseguem responder à altura, e nesse particular, Matt Passmore, Clé Bennett e Callum Keith Rennie, cada qual a seu ritmo, sobem provisoriamente a temperatura, substituindo a narrativa de horror por um thriller até empolgante. 

Passmore, justiça se lhe faça, é a estrela mais brilhante do firmamento aqui, encarnando o mistério que dá a pouca sustentação de que goza o filme, e compondo uma parceria notável com Bell, a surpresa possível nesse círculo interminável de anticlímaces. “Jogos Mortais: Jigsaw” tem esses raros bons lances, diverte, porém fica muito longe da tensão irracional do que é mostrado antes. No caso em tela, é quase só irracional mesmo.


Filme: Jogos Mortais: Jigsaw
Direção: Michael e Peter Spierig
Ano: 2017
Gêneros: Terror/Mistério
Nota: 7/10