Filme francês baseado em clássico da literatura é pequeno tesouro a ser desvendado na Netflix Pascal Chantier / Arte France Cinéma

Filme francês baseado em clássico da literatura é pequeno tesouro a ser desvendado na Netflix

Inspirado em “Jacques, o Fatalista”, obra escrita em 1773 pelo autor e filósofo iluminista Denis Diderot, “Mademoiselle Vingança” foi adaptado para as telas por Emmanuel Mouret. Com paisagens idílicas de uma França tomada pelo movimento barroco, o visualmente estonteante filme de Mouret conta com cenários minuciosos, figurinos milimetricamente planejados e cores vivas e etéreas. Há um capricho estético magnético nesta obra francesa, lançada em 2018.

Também as atuações um tanto quanto charmosas e dedicadas de Cécile de France, Edouard Baer e Alice Isaaz, que dão vida ao triângulo amoroso que faz girar o enredo, são atrativos a mais neste longa-metragem. O romance épico começa com uma amizade aparentemente despretensiosa entre Madame de La Pommeraye (France) e o Marquês des Arcis (Baer). A viúva começa o filme explicando ao amigo que não acredita em amor desde a infância, devido às experiências infelizes vividas por seus conhecidos. O sedutor marquês logo consegue ganhar a confiança da viúva e adentrar seus limites de intimidade, dando início a um romance de anos. Em Paris, fofoqueiros apostam quanto tempo irá levar para que o marquês, que já tem reputação de conquistador, abandone a viúva de coração partido.

E os rumores não poderiam estar mais corretos. Após um período de namoro, com idas e vindas do marquês de Paris para o campo, ele começa a se mostrar frio e apático na presença da aristocrata. Não demora para que ele desate o compromisso, alegando que seus sentimentos não são mais os mesmos. Com o orgulho em frangalhos e o coração despedaçado, Madame de La Pommeraye planeja se vingar do ex-amante. Mas a viúva é uma excelente atriz e consegue fazer o conquistador acreditar que não a magoou e que sua amizade permanece intacta. Os dois se tornam confidentes, enquanto a madame recruta uma belíssima prostituta para fingir ser uma religiosa devota, cujo pai morreu após perder toda a fortuna da família em jogos de azar.

Mademoiselle de Joncquières (Isaaz) tem o rosto angelical e um ar misterioso que deixam o marquês obcecado. Dias sem vê-la se torna uma tortura para sua alma apaixonada, enquanto a jovem prostituta apenas obedece ordens da aristocrata, fingindo rejeitar o marquês e se sentir ofendida com suas investidas. A jovem nunca responde ao homem mais que três palavras, sempre deixando-o a imaginar como seria tê-la por perto por mais tempo e sua personalidade. A viúva ressentida vibra a cada suspiro de desespero do ex-amante, que está completamente cego pela nova paixão.

Primeiro, ele oferece à donzela um raríssimo colar de pedras. Após ter a prenda rejeitada, o marquês presenteia a amada com um conjunto suntuoso de diamantes, que também é negado. Sem saber mais o que fazer para conquistar a bela jovem, ele decide pedí-la em casamento, selando a vitória de Madame de La Pommeraye, que pretende revelar a identidade da noiva após o matrimônio para, finalmente, humilhar publicamente o ex-amante e manchar sua reputação. Afinal, aristocratas jamais se casariam com meras prostitutas.

Com um carismático, e ao mesmo tempo cínico, sorriso de Madame de La Pommeraye, Cécile de France nos brinda com uma atuação vibrante de uma anti-heroína que nos divide a todo momento. Torcemos por sua vingança, mas também achamos que ela pode estar indo longe demais. Baer parece completamente entregue aos encantos de Isaaz, que equilibra toda a presença dominadora de France com sua figura discreta, enigmática e melancólica. Na vingança, não temos pena do marquês, mas da Mademoiselle de Joncquières, que sem o afeto da madame ou do figurão é apenas uma frágil e desgraçada existência.


Filme: Mademoiselle Vingança
Direção: Emmanuel Mouret
Ano: 2018
Gênero: Romance/Comédia/Drama
Nota: 9/10