Aplaudido de pé por 7 minutos no Festival de Toronto, filme sobre a busca da felicidade é um tesouro da Netflix Alison Rosa / Netflix

Aplaudido de pé por 7 minutos no Festival de Toronto, filme sobre a busca da felicidade é um tesouro da Netflix

A dança complexa da existência humana é regida por um relógio interno, pulsando à medida que seguimos em nossa jornada de descoberta desde nosso primeiro grito ao nascer. Mas é a busca incansável pela felicidade que muitas vezes nos ofusca, levando-nos a caminhos sinuosos, entrelaçados com expectativas da sociedade contemporânea.

O homem contemporâneo se perde nessa dança frenética, sendo sugado por correntezas turbulentas de desejo, status e validação. Conforme os anos passam, é surpreendentemente comum testemunhar pessoas, outrora julgadas ponderadas, fazendo escolhas impensadas, até maléficas, seduzidas pela miragem de um bem-estar ilusório.

Este bem-estar, na realidade, é apenas um fragmento na vasta paisagem da experiência humana, muitas vezes obscurecido por impulsos passageiros. Nesta complexidade, erros são cometidos, ilusões são seguidas e as consequências afetam não apenas os protagonistas dessas histórias, mas também os observadores impotentes.

“Gente de Bem”, que ganhou aplausos no prestigiado Festival Internacional de Cinema de Toronto, é um mergulho profundo nessas águas turvas da existência. Como se traçando paralelos com o envolvente “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, o personagem de Nicole Holofcener, Anders Hill, trazido à vida pelo magnético Ben Mendelsohn, embarca em uma série de decisões impulsivas. Decidido a redefinir sua vida, Anders rompe com tradições, corta cordões que antes o sustentavam, e se lança em uma aventura de autodescoberta. Sua escolha de se separar de um longo casamento e renunciar a uma carreira estabilizada não é meramente um capricho; é um grito por autenticidade. Mas enquanto ele busca um renascimento, o caos entra em cena.

O esforço tardio de Anders para se conectar com seu filho, Preston, e as complexidades de novos relacionamentos, incluindo um vínculo turbulento com Charlie, um jovem em recuperação, são um testamento à fragilidade humana. A entrada de um novo homem na vida de sua ex-mulher acende nele um desejo latente de revisitar e, talvez, corrigir escolhas passadas.

O toque magistral de Holofcener ilumina as nuances de Anders, particularmente em cenas carregadas de emoção, como sua solitária celebração de Natal em um ambiente desolado que ressoa a sua atual desconexão com o mundo.

Nicole Holofcener, com uma lente perspicaz, transforma uma narrativa corriqueira em uma tapeçaria requintada de emoções e conflitos humanos. Em um mundo saturado de alegrias fabricadas e momentos de Instagram, “Gente de Bem” rompe as barreiras, oferecendo um vislumbre da crua e bela humanidade. O filme não é apenas uma representação da vida; é um espelho de nossas fragilidades, triunfos e a constante busca por significado.


Filme: Gente de Bem
Direção: Nicole Holofcener
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Comédia
Nota: 9/10