Bruce Willis retorna em sequência explosiva de sucesso de ação na Netflix Divulgação / Summit Entertainment

Bruce Willis retorna em sequência explosiva de sucesso de ação na Netflix

O talentoso Frank Moses não conseguiu aplacar as injustiças do vasto mundo que o rodeia. Apesar de ter obtido sucesso no engajamento de seus ex-companheiros de batalha, todos devidamente engajados numa missão um tanto irrefletida, apesar de nobre, o diligente Frank Moses sente que o perigo o espera numa curva mais traiçoeira da estrada, onde uma nova legião de bandidos de grosso calibre — também misturados com acurácia ao caldo fétido que nutre o sistema — desponta com o intuito de fazê-lo se conformar com sua pacata rotina e esquecer de vez os dias de glória como homem de confiança do primeiro escalão da CIA, a agência de espionagem americana. “Red 2 – Aposentados e Ainda Mais Perigosos” persiste no mote desbravado por Robert Schwentke, quando Moses, composição de Bruce Willis numa de suas melhores fases, ainda longe da tortura da afasia que o obrigou a abandonar a carreira e o vai encarcerando cada vez mais em seu próprio universo, abdica da justa retirada depois de anos de bons serviços prestados ao povo dos Estados Unidos e se investe de uma função árdua demais para qualquer um. No filme de Dean Parisot, contudo, o anti-herói de Willis parece ser o único capaz de deter a sanha genocida de um maníaco, há três décadas empenhado na confecção de uma bomba nuclear cujo tamanho diminuto é inversamente proporcional a seu poder de destruição. Da mesma forma que em “Red – Aposentados e Perigosos”, os roteiristas Erich e Jon Hoeber continuam apostando no quanto mais confuso, melhor; porém, ao fim de três anos, a história sofre com iterações desnecessárias (e exaustivas) acerca dos supostos atributos messiânicos de seu protagonista, que talvez nem fizesse melhor ao gozar de seu merecido descanso em churrascos com a família. 

Numa loja da Costco, Moses se reencontra com Marvin Boggs, ou melhor, é encontrado por ele. O personagem de John Malkovich o assalta com as mesmas paranoias descortinadas no longa que abre a franquia. O sossego da tarde de compras do ex-espião com Sarah, a esposa interpretada por Mary-Louise Parker, corre sério risco, e como se um anjo torto sobrevoasse naquele mesmo instante a seção de jardinagem e dissesse amém, Boggs encarna o próprio diabo e a vidinha de Moses é outra vez tragada para o centro de um torvelinho de sentimentos e ocorrências esdrúxulas, desta feita muito mais x, conforme vai demonstrar o texto dos irmãos Hoeber. A próxima sequência, hilária, prova que o tipo a que Malkovich dá vida é o legítimo antagonista da trama, e o contraponto quase involuntário nos desempenhos dos dois atores é sem dúvida a grande boa surpresa de “Red 2”. Aos poucos, juntam-se a eles a outra dupla de veteranos, Victoria Winslow e Ivan Simanov, com Helen Mirren bem mais poderosa e Brian Cox miseravelmente desperdiçado — e se por um lado o Joe Matheson de Morgan Freeman, por razões óbvias explicitadas no filme anterior, não os acompanha nessa jornada, Miranda Wood, a vamp de Catherine Zeta-Jones, dilata as possibilidades narrativas do trabalho de Parisot. Nesse diapasão, vibra também a performance de Lee Byung-hun como Han Cho Bai, o milionário assassino a soldo sul-coreano que nutre por Moses um ódio um tanto malresolvido, lembrando o psicopata de “Eu Vi O Diabo” (2010), de Jee-Woon Kim.

Anthony Hopkins coroa “Red 2” como um thriller acima da média. Edward Bailey, o lunático por trás de um tal projeto Nightshade, é o vilão irrepreensível para um enredo tresloucadamente arrojado, e pelo currículo de Hopkins ninguém questiona que Bailey possa realmente ter permanecido trancado numa sala por 32 anos. Essa homenagem quase subliminar ao Hannibal Lecter de “O Silêncio dos Inocentes” (1991), o clássico do terror de Jonathan Demme (1944-2017), cai bem depois do histrionismo da turma de Moses, o inimigo número um da rotina.


Filme: Red 2 – Aposentados e Ainda Mais Perigosos
Direção: Dean Parisot
Ano: 2013
Gêneros: Ação/Comédia
Nota: 8/10