Obra-prima de Steven Spielberg, ganhadora de 4 Oscars e estrelada por Anthony Hopkins, está na Netflix Divulgação / DreamWorks

Obra-prima de Steven Spielberg, ganhadora de 4 Oscars e estrelada por Anthony Hopkins, está na Netflix

A escravidão, um dos períodos mais sombrios e devastadores da história da civilização, castigou várias gerações ao longo dos séculos, expandindo suas raízes tóxicas em praticamente todos os cantos do mundo. Esse sistema nefasto foi alimentado tanto pela ambição desenfreada de líderes insensíveis quanto pela complacência dos que se mantiveram indiferentes ao seu redor.

Através das lentes do tempo, muitos acontecimentos da história são resgatados e submetidos a novas análises. Entretanto, outros capítulos permanecem misteriosamente velados, parcialmente expostos à luz da verdade, com suas narrativas completas frequentemente distorcidas pelo prisma da contemporaneidade.

“Amistad”, uma obra cinematográfica dirigida pelo aclamado Steven Spielberg, é uma corajosa imersão em uma fase particularmente obscura da história americana. Surpreendentemente, este período turbulento permanece, até hoje, um território desconhecido para muitos americanos, o que realça a importância da película. À medida que o espectador se delicia e se aprofunda na intrincada narrativa, torna-se claro que muitos dos detalhes e nuances da história são facilmente perdidos, demandando uma observação cuidadosa.

O retrato angustiante de um homem tentando libertar-se de suas correntes não só é universalmente perturbador, como também carrega consigo o peso de incontáveis vidas que sofreram nas mãos da opressão. Quando o indivíduo retratado é de pele escura, imediatamente somos remetidos a um período histórico específico, localizado entre os séculos 16 e 19. Em “Amistad”, Spielberg, com sua expertise narrativa, evoca argumentos e sentimentos semelhantes aos apresentados em outra obra-prima, “A Lista de Schindler”. Ambos os filmes oferecem uma reflexão sobre as profundezas mais obscuras da condição humana, os limites da crueldade que o ser humano pode infligir a outro.

Ao tecer sua narrativa, Spielberg realça a inimaginável e incontestável brutalidade da escravidão, que, em sua magnitude de horror, encontra paralelos com outros genocídios, como o Holocausto. O filme traça paralelos sutis e poderosos entre figuras icônicas e personagens-chave, como a comparação entre a trajetória sacrificial de Jesus e a de Cinque. Este último, líder respeitado em sua comunidade em Serra Leoa, foi traído, capturado e submetido a uma vida de sofrimento por pessoas de seu próprio povo.

A atuação impecável e emocionante de Djimon Hounsou como Cinque, combinada com a presença magnética de Anthony Hopkins, enriquece a tapeçaria emocional do filme. Hopkins, interpretando com nuance e gravitas o ex-presidente John Quincy Adams, se destaca como um defensor inabalável da liberdade e da justiça.

Ao longo de “Amistad”, Spielberg habilmente nos conduz através do destino de Cinque e seus camaradas, com a trama sendo enriquecida por detalhes históricos. A informação de que sete dos nove juízes da Suprema Corte dos EUA em 1839 possuíam fortes laços com a escravidão, por exemplo, adiciona uma camada de complexidade ao enredo.


Filme: Amistad
Direção: Steven Spielberg
Ano: 1997
Gêneros: Drama/Mistério/História
Nota: 9/10