Novo filme de Adam Sandler, que acaba de estrear na Netflix, é a comédia mais esperada de 2023 Scott Yamano / Netflix

Novo filme de Adam Sandler, que acaba de estrear na Netflix, é a comédia mais esperada de 2023

Feliz o povo que, além de ter heróis a quem recorrer no momento em que o caldo acha de entornar, aprende a rir de suas misérias. Em 167 a.C., quando a Judeia fora subjugada pelo Império Selêucida e a helenização tornou-se um dos mais antigos processos de aculturação de que se tem notícia, traumático como sói acontecer, o povo judeu teve de acostumar-se a executar seus ritos na calada da noite, renunciar aos hábitos, alimentos e roupas que o poderiam denunciar e aos homens foi vedada a circuncisão.

Adam Sandler decerto não teria manifestado qualquer objeção a essa última exorbitância legal dos selêucidas se fosse um judeu de há quase 2.200 anos, e em “Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá!” brinca com muitas das excêntricas idiossincrasias judaicas com toda a propriedade e sem nenhuma cerimônia, abrindo alas para que estreantes selecionados também desfrutem da oportunidade. O filme de Sammi Cohen, também judia, evita a todo custo romanceações para o bem ou para o mal e mostra a família que protagoniza sua história à luz da mais pedestre normalidade, com a óbvia ressalva, como se apreende do título, que um evento muito íntimo (e sério) corre o risco de degringolar num pastelão para quatrocentos talheres. E isso não é nenhuma tragédia grega.

O roteiro de Alison Peck, adaptado do romance para jovens adultos de Fiona Rosenbloom, concentra-se sobre as agruras de se tornar gente grande de Stacy Friedman, a filha de Danny e Bree, os personagens de Sandler e Idina Menzel. Depois de uma simpática introdução em que Stacy compõe uma sinopse acerca das cerimônias que marcam o início da “adultecescência” — as quinceañeras para os hispânicos; as festas de debutantes na opulenta cultura anglo-saxã, importada para o Brasil (onde, ao menos nos meus dias de garoto, também se levavam ovos na cabeça); e o mergulho na terra, em certas tribos da África, e, claro, a cerimônia dos judeus, mencionada no título —, a menina vai se apercebendo da real dimensão que está mesmo tornando-se mulher. Peck lança mão de blagues tolas a respeito da menstruação, que Sandler deixa ainda mais constrangedoras, mas o talento de Sunny, a caçula do clã, é robusto o suficiente para contornar um possível desastre.

Na frente oposta, Sadie Sandler, a irmã mais velha, não faz feio como uma antagonista suavizada, apostando nas implicâncias obrigatórias entre adolescentes que disputam o mesmo território, os mesmos afetos, às vezes até o mesmo vestido. Nesse ambiente, também se projeta Lydia Rodríguez, a melhor amiga de Stacy interpretada por Samantha Lorraine, com quem, sem muita surpresa, vai viver momentos de conflito previsíveis, tanto pior em se considerando as alterações hormonais típicas da idade, de que a moça também se sai galhardamente.

Ser adulto nem sempre é maravilhoso, como a própria Stacy nota no desfecho, mas “Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá!” é uma bela crônica das angústias existenciais na hora errada, comuns a todo mundo. Quase sempre, a única coisa sensata a se fazer é dançar o tango argentino no bimah e aproveitar o baile até o apagar das luzes.


Filme: Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá!
Direção: Sammi Cohen
Ano: 2023
Gêneros: Comédia/Coming-of-age
Nota: 8/10