Ganhador de 6 Oscars, em 2022, filme inspirado em um dos livros mais vendidos do mundo está no Prime Video Divulgação / Warner Bros. Picture

Ganhador de 6 Oscars, em 2022, filme inspirado em um dos livros mais vendidos do mundo está no Prime Video

O universo de Duna foi criado em meados de 1960 pelo romancista estadunidense Frank Herbert. É hoje o livro de ficção-científica mais vendido no mundo e ganhou uma primeira versão para os cinemas em 1984, sob a direção do icônico David Lynch. Embora essa adaptação oitentista tenha sido indicada ao Oscar de melhor som e tenha lá sua fanbase, é sabido que é considerado um trabalho vergonhoso para Lynch, que diz ter se arrependido de ter feito o filme. Já uma série dos anos 2000, dirigida por John Harrison e estrelada por William Hurt e Alec Newman é menos conhecida, mas chegou a levar 2 prêmios Emmy para casa.

Agora sob direção de um dos cineastas mais proeminentes da atualidade, “Duna” de Denis Villeneuve é uma obra de arte audiovisual com uma estética deslumbrante e poderosa. Silencioso, reflexivo e futurista, a primeira parte deste longa-metragem dividido em dois, embora se passe milhares de anos no futuro, e já tão distante da vida na Terra que esta só se tornou uma lembrança vaga, trata de temas bastante atuais.

Com uma intricada trama política, o filme ainda modela em seu denso enredo temas como legado, a influência da religião no Estado, ecologia, tecnologia e divisões sociais. Com visuais que às vezes lembram o universo de “Star Wars”, “Duna”, embora também misture ficção-científica com fantasia, é claramente mais maduro e sombrio.

Ganhador de 6 Oscars em categorias técnicas, como melhor som, efeitos visuais, design de produção, canção original, montagem e fotografia, ele também foi indicado a melhor filme, maquiagem e penteado, figurino e roteiro adaptado. Há que se destacar o trabalho primoroso de Greig Fraser na fotografia. Ele, que também é conhecido por outros trabalhos grandiosos, como “Rogue One: Uma História Star Wars”, “Hora Mais Escura” e “Vice”, aqui tem seu trabalho caracterizado pelas luzes naturais, que muitas vezes mostram o movimento solar sobre os personagens. Também há a vastidão de imagens de dunas de areia, que nos dá um senso de distância e sobrevivência. Arrakis, ou Duna, como é chamado o local onde o filme é ambientado na maior parte do tempo, é um local árido, difícil de chegar e de se mover por ele, quente, perigoso e brutal. Além disso, vamos o reflexo de Paul (Timothée Chalamet) no vidro do helicóptero no início do filme, uma representação de sua inocência. Mas conforme a história se desenvolve, o herói relutante vai amadurecendo e compreendendo sua jornada.

E se você ainda não leu o livro e não viu nenhum dos filmes. O enredo, que é bastante complexo, gira em torno de Paul, filho do imperador Leto Atreides (Oscar Isaac) e de Lady Jessica (Rebecca Ferguson), membro de uma irmandade mística e milenar, chamada Bene Gesserit. Esse grupo religioso traça linhagens ao longo de séculos com objetivo de trazer ao mundo, algum dia, uma espécie de messias. A profecia diz que um líder “escolhido” trará um futuro melhor para a humanidade. Alguns acreditam que Paul é este enviado.

O mundo vive em um sistema político complexo. Uma especiaria, chamada Melange, é extraída de Arrakis  e é vital para o universo. Ela pode prolongar a vida e é usado pela Bene Gesserit para aperfeiçoamento genético. A Melange também é o que movimenta o monopólio de viagens interestelares, se tornando uma importante moeda diplomática. O sistema político funciona assim: há um imperador que governa ao lado de uma convenção de Casas. Entre elas, a Atreides e a Harkonnen, que alimentam uma rivalidade milenar. Quando o duque Leto Atreides fica muito popular, o imperador, enciumado, acredita que este pode lhe roubar a posição política. Por isso, planeja matá-lo. No entanto, existe uma legislação que prevê que se o imperador fizer qualquer coisa contra uma das casas, elas devem se unir para derrubá-lo. Então, ele se une com a Casa Harkonnen para atrair o duque Atreides até Arrakis, para que lá o barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgård) elimine seu rival.

No meio de toda essa discórdia, Paul começa a ter visões que o preparam para ser o líder que o mundo precisa, mas não sem muita angústia, dúvidas existenciais e autoquestionamentos, afinal ele não se sente preparado. Ele acredita ser um impostor. Nas imagens que aparecem em sua mente, ele vê uma moça (Zendaya) Fremen, que embora ele não conheça, será crucial para sua ascensão. Os Fremen vivem em Arrakis e estão preocupados com a mineração de Melange. Eles temem que a exploração da especiaria cause desequilíbrios para o meio-ambiente.

Em meio à jornada de autoconhecimento, crescimento e revelação do verdadeiro eu de Paul, somos arrebatados por todas as suas reflexões e os devaneios que o assombram, graças à fotografia grandiosa de Fraser, mas também à trilha sonora de Hans Zimmer, um trabalho majestoso e com características experimentais, étnicas e cheias de vocais, além de influências de Pink Floyd, que teve trechos de “Eclipse” adicionados à trilha, proporcionando uma atmosfera mística e sobrenatural, ao mesmo tempo que oriental.

A primeira parte de “Duna” é um tanto quanto deslumbrante, mas deixa os mais desavisados confusos, por conta da trama tão emaranhada e o final vago. A segunda parte está prevista para ser lançada em novembro de 2023. Neste ínterim, a HBO tem desenvolvido uma série spin-off, chamada “Dune: The Sisterhood”.


Título: Duna — Parte 1
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2021
Gênero: Ficção-Científica/ Fantasia
Nota: 10/10