Escondido e subestimado, filme da Netflix é uma obra de arte que vai te fazer sentir calafrios do início ao fim Noh Juhan / Netflix

Escondido e subestimado, filme da Netflix é uma obra de arte que vai te fazer sentir calafrios do início ao fim

“Noite no Paraíso” é quase uma tragédia shakespeareana. Tem um quê de Hamlet. Ou talvez de Romeu e Julieta. Enfim, com essas frases você já sabe que as coisas não acabam nada bem. Poderia ser um spoiler, mas não é novidade em filmes de máfia. Eles nunca acabam bem. E se é asiático, você sabe também que as cenas de combate são inebriantes, pois a especialização desses povos nas artes marciais é simplesmente incrível.

Tae-gu (Tae-goo Eom) é um assassino da máfia que quer deixar a vida de crime e limpar seu nome para cuidar de sua irmã doente e seu sobrinho. No entanto, criminosos adversários encontram sua família e a mata. Enfurecido, Tae-gu decide se vingar, mas provoca alguns danos que fazem seu próprio clã se voltar contra ele. Tae-gu, então, foge para a Ilha de Jeju, onde conhece uma garota sombria e misteriosa.

O primeiro encontro entre Tae-gu e Jae Yeon (Jeon Yeo-bin) é bem peculiar. Ele acorda pela manhã ao som de tiros. É Jae Yeon acertando uma fileira de garrafas de vidro dispostas sobre um tronco, do lado de fora. Após estilhaçar todos os potes, ela aponta a arma para a própria cabeça e ele acredita que está prestes a ver pedaços de cérebro rolando pela relva. Ele tenta impedí-la de tirar a própria vida, mas quando ela aperta o gatilho, nenhuma bala é disparada.

Impressionado com a habilidade de Jae Yeon em acertar os alvos, eles se aproximam. Não demora para que ele descubra que ela não tem nada a perder. Jae Yeon tem sofre de uma doença terminal, por isso, é tão impetuosa e destemida. Mas os dois têm mais em comum do que acreditam. A família da moça também foi assassinada. Não é apenas a tragédia que os unem, mas a máfia. O tio de Jae Yeon tem envolvimento com o sindicato do crime, razão pela qual ela perdeu todo mundo.

Mas a coincidência de ter encontrado outras pessoas ligadas ao crime em Jeju não vai ser nada bom para Tae-gu, que logo sente seus inimigos se aproximarem. Logo ele e Jae Yeon terão o alvo sobre suas costas. Então, começa aí uma caçada implacável de gato e rato. Enquanto isso, rola um clima de romance, mas sem consumação, entre o protagonista e a femme fatale.

O espectador pode esperar cenas de velocidade, lutas, torturas e mortes. Há muito, muito sangue ao longo de “Noite no Paraíso”, que mais parece uma noite no inferno. Afinal, sobreviver aos criminosos mais inescrupulosos que se pode encontrar não deve ser um trabalho muito fácil. O espectador desenvolve certa simpatia por Tae-gu e Jae Yeon, embora eles sejam personagens muito introspectivos e sombrios. Pouco é revelado sobre eles, mas isso não é um problema, porque ainda sim nos sentimos cativados por uma doçura quase que silenciosa deles.

É difícil chegar até aqui sem dar spoilers, mas uma das cenas finais remetem à morte do imperador Júlio César, quando ele é traído pelos seus próprios homens e esfaqueado por 23 vezes.

“Noite no Paraíso”, embora seja um filme de ação, é bem bonito (tanto o roteiro quanto esteticamente), dramático, poético. É um filme forte e impactante. Não são apenas cenas de luta e violência gratuita e vazia. Esse longa-metragem vai te pegar do início ao fim.


Filme: Noite no Paraíso
Direção: Park Hoon-jung
Ano: 2020
Gênero: Ação / Drama
Nota: 8/10