Filme de suspense na Netflix vai te deixar tenso do início ao fim e não vai te deixar desgrudar os olhos da tela Divulgação / Universal Pictures

Filme de suspense na Netflix vai te deixar tenso do início ao fim e não vai te deixar desgrudar os olhos da tela

“O Homem Invisível” deu um novo suspiro de vida para o Dark Universe da Universal Pictures, uma série de filmes de monstros criado pelo estúdio e que nunca decolou realmente. Mas o filme de Leigh Whannell deu um sopro de esperança e respeitabilidade para a intenção. Baseado no livro de H.G. Wells, um dos maiores escritores de ficção-científica e visionários de todos os tempos, “O Homem Invisível” já teve versão em 1933; em 2000, com Kevin Bacon no papel do vilão; e em 2003, em “A Liga Extraordinária”. Mas sem dúvidas melhorou muito na última versão, protagonizada por Elisabeth Moss, que vive Cecilia, uma mulher que está em um casamento abusivo, em que é vítima de violência física e psicológica por parte do marido, um milionário da tecnologia, Adrian (Oliver Jackson-Cohen).

Whannell não entrega a história de mão beijada para o espectador, mas o deixa que interaja com sua talentosa protagonista, que transmite muitíssimo bem com suas expressões e trejeitos o que está vivendo. As primeiras cenas não revelam que Cecilia vivia um terror doméstico, apenas mostram sua fuga da fortaleza tecnológica onde vive com o marido.

Tempos depois, ela recebe a notícia que Adrian tirou a própria vida e de que é a única em seu testamento. Mas Cecilia parece desconfiada o tempo inteiro, como se esperasse que a morte do marido não passasse de uma farsa, e como se a qualquer momento ele fosse reaparecer para atormentá-la novamente. E é bem isso o que acontece, exceto pela parte do “aparecer”. Como empresário de tecnologia no campo da ótica, ele cria uma roupa capaz de torna-lo invisível. Desta forma, ele consegue assombrar Cecilia durante quase duas horas de filme, além de manipular situações para que ela se passe por desequilibrada, psicótica e assassina.

Assim como Cecilia, o espectador não consegue ver Adrian, embora saiba que ele está lá. As câmeras de Stefan Duscio perambula pelos cenários vazios, indicando a presença do vilão, mas sem mostra-lo. O espectador pode apenas imaginar ou se perguntar onde ele estaria. Em uma cena em que Adrian luta com policiais, a câmera participa da coreografia, sentindo os impactos na parede e, depois, caindo no chão, proporcionando uma imersão do público na cena.

Para conseguir fazer os personagens e cenários interagir com um personagem invisível, foram usados diversos artifícios, dos mais simples aos mais sofisticados. Linhas de anzol que puxavam as portas, efeitos de CGI, homens em roupas verdes que depois seriam pintados com as cores do fundo. Na cena em que Cecilia é arremessada sobre a mesa da sala de jantar, Elisabeth Moss teve de ser presa a cabos de aço, que produziram todo o efeito. Foi um trabalho muitas vezes artesanal e que exigiu muito talento da protagonista, que em inúmeras situações interagia e se emocionava sozinha, sem nenhum outro ator em cena com ela.

“O Homem Invisível” calhou muito bem com as últimas discussões sobre violência doméstica, que apesar de existir desde sempre, apenas nas últimas décadas passou a ser tratada com um crime. Durante muitos séculos, mulheres sofriam abusos físicos e emocionais de seus pais e maridos sob o respaldo da lei, que as consideravam propriedades.

O filme retrata bem a situação da violência no relacionamento, porque traz a metáfora perfeita. O agressor quase sempre consegue disfarçar sua violência, passar despercebido, praticamente invisível diante das outras pessoas, enquanto as situações são manipuladas para que a mulher seja percebida pela sociedade como instável, louca, histérica, neurótica, egoísta, ou exagerada. Quando Cecilia tenta explicar para seus amigos que Adrian ainda a persegue, todos, até mesmo as pessoas de mais confiança, acreditam que ela está ampliando a realidade, vendo coisas que não existem, remoendo traumas. É difícil ser acreditada em um mundo que trata as mulheres sempre como pessoas guiadas apenas pelas emoções, não pela razão.

Na etimologia do nome, Cecilia vem do latim “caecus”, que significa “cego”. Se ela não pode ver Adrian, portanto, está cega. Ao mesmo tempo, é chamada de C pelos amigos, que tem a mesma sonoridade de “see”, do inglês “ver”. O filme brinca com metáforas, palavras, perspectivas de câmeras e com a intuição do espectador. Uma produção e tanto para entretenimento e um ótimo exercício mental, “O Homem Invisível” não pode faltar na lista dos cinéfilos.


Filme: O Homem Invisível
Direção:
Leigh Whannell
Ano: 2020
Gênero: Suspense/Ficção Científica
Nota:
9/10