Essa é sua última chance de assistir o filme mais brutal, agonizante e perturbador da Netflix Divulgação / Anchor Bay

Essa é sua última chance de assistir o filme mais brutal, agonizante e perturbador da Netflix

O medo do crime, ou o que o Hobbes teria chamado de medo da morte violenta e da violação da propriedade, é algo que incomoda a vida individual ou coletiva e apenas a mão soberana e rigorosamente assustadora do Estado poderia preveni-la ou impedi-la. Bem, até tentamos uma espécie de pacto social, a constituição e todas as suas leis, mas a sociedade ainda não alcançou, nem mesmo com as mais duras penas, como nos Estados Unidos existem a de morte e prisão perpétua, impedir que atrocidades e monstruosidades acontecessem.

As mulheres acabam por ser presas fáceis porque, na maioria dos casos, seus predadores possuem superioridade na força física e na maldade. Ser mulher definitivamente não é fácil e a insegurança e o medo rondam a todo momento grande parte dessa população mundial. Especialmente, porque socialmente elas ainda são condenadas diante da opinião pública e da Justiça, mesmo quando são vítimas, afinal, “quem mandou viajar sozinha?”, “quem mandou estar à noite sozinha?”, “quem mandou usar aquela roupa?” ou “quem mandou se casar com aquele homem?”. O sistema político, social, jurídico e econômico foram criados para beneficiar homens. Este é um establishment no qual temos que, diariamente, tentar derrubar.

Em “Doce Vingança”, Jennifer Hills (Sarah Butler) é uma jovem escritora que decide se isolar em uma cabana no bosque para conseguir se concentrar para escrever seu próximo livro. Com cenas nubladas, opacas e sem saturação, podemos pressentir que algo perverso está por vir. Não demora para que um grupo de homens que trabalham no posto de gasolina da cidade, Johnny (Jeff Branson), Stanley (Daniel Franzese), Andy (Rodney Eastman) e Matthew (Chad Lindberg), com ajuda do policial Storch (Andrew Howard), promovem uma longa e excruciante sessão de tortura, humilhação e violência sexual contra Jennifer. Após ela se jogar de uma ponte, eles deduzem que a jovem está morta. Até que eles próprios começam a morrer um por um de forma brutal.

O filme de Steven R. Monroe desconhece limites da razoabilidade e beira o sadismo ao retratar explicitamente os atos mais cruéis e atrozes que um ser humano pode sofrer. Para realizar as cenas de estupro, a equipe de filmagem criou um código para que a atriz Sarah Butler dissesse quando se sentisse emocionalmente esgotada. Ela, inicialmente, não quis aceitar o papel de Jennifer, mas foi convencida por seu agente, porque ela poderia atuar como uma mulher assustadora e durona ao se vingar de seus agressores. Por isso, o filme não é recomendado para qualquer pessoa, especialmente por ser um gatilho para vítimas de violência sexual.

“Doce Vingança” pode ser revigorante em seu segundo ato, mostrando Jennifer como uma mulher resistente e que sobreviveu ao pior e retornou da cinzas para vingar de maneira ainda mais cruel toda a violência que sofreu. O filme mostra como o mundo, absolutamente qualquer lugar do mundo, é inseguro para uma mulher e como qualquer homem pode ser um estuprador em potencial. Isso não quer dizer que todos os homens são estupradores, mas que não há como uma mulher saber quem poderá ser seu agressor, já que até mesmo moradores tradicionais da cidade e o próprio policial, a quem ela recorre por ajuda, acaba por ser um de seus algozes.

Conforme a brutalidade é transformada em entretenimento, “Doce Vingança” se torna bem-sucedido em mostrar o pior lado dos seres humanos, aquele lado que jamais deve ser normalizado, aceito ou defendido. Mulheres jamais podem ser culpadas por sofrerem violência sexual e agressores nunca devem ser estimulados. Que o filme sirva de exemplo para mostrar que o mal se paga com o mal e que nenhum crime resiste à força da natureza de seus atos se virarem contra seu autor.


Filme: Doce Vingança
Direção: Steven R. Monroe
Ano: 2010
Gênero: Terror
Nota: 6/10