História de amor na Netflix é uma das experiências mais poderosas e inesquecíveis do cinema e vai te esmagar Divulgação / The Weinstein Company

História de amor na Netflix é uma das experiências mais poderosas e inesquecíveis do cinema e vai te esmagar

Um divórcio é, geralmente, bastante traumático para os filhos. É como se seu universo inteiro implodisse. Não existem mais garantias e segurança. Mas, na maioria das vezes, ainda é menos traumático do que um lar disfuncional e em constante guerra entre o casal que já não convive bem. Derek Cianfrance, cineasta autodidata do estado do Colorado, nos Estados Unidos, começou a fazer filmes com apenas 13 anos. Aos 20, testemunhou a crise e ruína do casamento dos pais. Durante um tempo, pensou no que fazer com esse trauma em sua vida e, anos depois, em 1998, escreveu o roteiro de “Blue Valentine”.

Mas ainda levou um tempo para que o filme saísse do papel. Entre os entraves, a fatalidade da morte de Heath Ledger, que atrasou em 2 anos as gravações, porque a equipe respeitou o luto de Michelle Williams, a protagonista, e esperou que ela se sentisse preparada para retornar aos trabalhos. Foram 13 anos de produção para que, enfim, os profundos traumas familiares de Cianfrance fossem expostos ao público na forma do casal Dean (Ryan Gosling) e Cindy (Michelle Williams).

Essa não é uma história de amor daquelas em que alguém morre no final. Nem das que há um “felizes para sempre”. Essa é a história de como os casamentos falham. É uma bela e trágica ópera da vida comum. Em duas linhas temporais, o enredo segue Dean e Cindy quando se conhecem e se apaixonam e, depois, seis anos mais tarde, já casados e com uma filha de três anos. No começo, Cindy é uma estudante de medicina, bela, independente e rebelde. Dean se apaixona instantaneamente ao encontrá-la em um asilo de idosos e se dedica a conquistá-la a todo custo.

Anos depois, após o nascimento inesperado, porém bem-vindo da filha, Cindy tem que trabalhar incansavelmente como enfermeira para sustentar a família, enquanto Dean faz alguns trabalhos como carregador de mudanças e cuida da casa. Se para ele o casamento representa estabilidade e segurança, para Cindy, é como se fosse uma prisão. Frustrada com os rumos que sua vida tomou, ela culpa o matrimônio e, sobretudo, Dean, que parece satisfeito sentado sobre a mediocridade de sua existência, agora já com a cabeça ficando careca e a barriga saliente das cervejas diárias. Apesar de não verbalizar, Cindy, que constantemente foge das discussões, acredita que o casamento minou seus planos para o futuro, a carreira de médica, o sucesso financeiro e a realização pessoal. Ela não se sente mais sexy e nem sente atração pelo companheiro. A vida se tornou uma caixa, na qual está presa e sufocada.

O filme se propõe a escavar os momentos bons e ruins do casal para tentar compreender onde foi que tudo deu errado. E é difícil, inclusive na vida, encontrar as respostas para esse tipo de pergunta, porque na maioria das vezes, não foi uma ou outra coisa em particular, mas um conjunto de ações de ambas as partes. Cianfrance usa sua experiência pessoal para mostrar o que acontece para muitos casais depois do amor, porque muitos se esquecem de que não basta encontrar alguém para amar para ser feliz. Há uma convivência, a vida sexual e financeira que deve ser extremamente bem-cuidada, a divisão de tarefas e as expectativas sobre o outro.

Dean também está frustrado, porque queria uma mulher dedicada ao lar, carinhosa, nos moldes tradicionais e esperados. Cindy está longe disso. Mesmo assim, ele se esforça em tentar manter o casamento falido, porque acredita nele como uma instituição superior e solidificada.

Ryan Gosling e Michelle Williams atuaram como versões de si próprios, trazendo uma sensação de realismo ao que se vê na tela. E, de fato, eles passaram cerca de um mês morando juntos como família em uma pequena casa, fazendo compras juntos, cozinhando e lavando a louça, com um salário comum e experimentando como vivem os reles mortais. A experiência trouxe intimidade e o tipo de mágoa resultante da convivência entre duas pessoas necessárias para interpretar estes papeis. Depois de “Blue Valentine”, Cianfrance convidou Gosling para participar de sua produção seguinte “O Lugar Onde Tudo Termina”.

“Blue Valentine” é o tipo de filme que vai destruir todas as expectativas de amor romântico e vai introduzir um pouco de realismo e rotina à sua mentalidade.


Título: Blue Valentine
Direção: Derek Cianfrance
Ano: 2010
Gênero: Romance / Drama
Nota: 9/10