O filme encantador na Netflix que você, certamente, irá assistir mais de uma vez Divulgação / Bleecker Street

O filme encantador na Netflix que você, certamente, irá assistir mais de uma vez

Um filme agridoce de Matt Ross, o road movie anarquista “Capitão Fantástico” conta a história de uma família que decidiu, assim como Thoreau durante o período de sua vida descrito em “Walden”, desapegar do material e ir morar nos bosques e viver de tudo que fosse natural. As seis crianças são treinadas para lutar como Jedis, leem Dostoiévski à beira da fogueira à noite, discutem a exploração de classes e se são maoístas ou trotskistas. São meninos e meninas educados em casa e que não são poupados pelo pai das mais duras e cruéis verdades.

Inclusive, quando a mãe deles, que está internada, comete suicídio, o pai, Ben (Viggo Mortensen) prontamente dá a notícia sem colorir a história de estrelinhas. Culpado pelos pais da esposa por sua morte, ele é proibido de botar os pés em seu funeral. Mas, claro, ele que não acredita em autoridades logo dá um jeito de enfiar sua trupe dentro de um ônibus para atravessar o país e chegar até a cerimônia de despedida.

E apesar dos filhos incrivelmente bem-criados — as crianças possuem hábitos extremamente saudáveis de exercícios físicos, dieta alimentar e leitura —, Ben começa a enfrentar o desafio invencível de ter sempre razão. As crias, claro, cedo ou tarde começam a questioná-lo e, até mesmo, se opor a ele. Não é isso que os filhos fazem? Sim, e às vezes, como pais, vemos que temos mais para aprender do que para ensinar. Se Ben é contra toda autoridade, ele próprio não pode se impor de maneira inquestionável.

Durante o trajeto até o velório, vemos quão inteligentes são essas crianças e o quanto são impactadas pela cultura fora de seu ambiente. E o método de vida anticapitalista de Ben se mostra relativamente ineficaz, como o próprio sistema externo a ele. Não só porque seus filhos querem fazer o que ele sempre condenou, como formar em uma universidade e comer um McDonalds, mas porque sua própria esposa não encontrou a satisfação no estilo de vida que eles próprios criaram. Questionar o status quo e se opor a ele é importante, mas não garante realização pessoal ou a própria felicidade. Muito menos o capitalismo garante. Acredito que este filme seja mesmo sobre a nossa construção como seres melhores do que somos.

Também é um filme sobre como paternidades ou maternidades perfeitas não existem. Por mais que tentemos preservar a pureza de nossos ensinamentos nos nossos filhos, há um mundo lá fora que eles precisam conhecer e vão, independente do quanto a gente tente protegê-los. E, no fim das contas, eles deverão tomar suas próprias decisões sobre a vida que querem para si.


Filme: Capitão Fantástico
Direção: Matt Ross
Ano: 2016
Gênero: Drama, comédia
Nota: 10/10