Demolindo alguns mitos sobre eleições e democracia

Demolindo alguns mitos sobre eleições e democracia

A eleição de 2022 tá em clima de arquibancada de Fla-Flu: dividida e cheia de gente irritada. Em um clima assim as pessoas acreditam em boatos e mitos. Que tal esclarecer algumas coisinhas? Todo mundo adora falar em eleição e democracia, mas não sabe muito bem como funcionam. Não se preocupe, não vou escrever um manual. Ninguém lê manual (você leu o do seu celular? Pois é, nem eu). Não existe manual para eleição e democracia. Não, a constituição não conta: a nossa é confusa e o texto meio chato. Use esse FAQ aqui. 

Eleição é a festa da democracia?

Se é mesmo uma festa, é uma “festa estranha com gente esquisita”. E com trilha sonora horrorosa, já ouviu os jingles? Boa parte dos candidatos eu jamais convidaria para vir em casa. E se eu convidasse teria que ficar de olho no estoque de bebidas. Talvez seja uma festa a fantasia. Mas acho que o Padre Kelmon escolheu mal a dele.

Em uma democracia todo poder emana do povo?

Que eu saiba o poder emana de quem ganha os cargos, a gente só escolhe quem vai mandar na gente, o que não é o mesmo que “ter poder”. Se eu tivesse poder eu me dava uma mansão numa praia no litoral do Ceará. Ainda não ganhei uma. E acho que nem você. Então que raio é esse poder que eu e você emanamos? Juro que não sei.

A democracia é regida pela vontade da maioria?

Não é assim tão simples. O grande lance é que na democracia todos têm direito a uma voz. Se vão escutar é outra coisa. Mesmo assim, a maioria pode fazer valer a sua vontade, mas tem que respeitar a minoria. Até porque um dia a minoria pode virar a maioria e vice-versa. O Collor foi eleito pelo PRN, que hoje é o AGIR, um partido nanico. O Collor agora é do PTB, partido que já teve em suas fileiras nada menos do que Getúlio Vargas e João Goulart, dois presidentes importantes. Mas que ultimamente estava topando até o Roberto Jefferson. Veja como o mundo gira.

E vale lembrar: nem sempre a maioria está certa. Se o seu candidato ganhar alguma coisa não vá sair por aí se achando o rei da cocada preta. Ser maioria não dá superioridade moral a ninguém. Nazistas já foram maioria na Alemanha e deu no que deu. Mais importante do que estar com a maior torcida é estar na torcida certa. Veja bem com quem você vai se meter.

Quem não vota perde o direito de reclamar?

Bobagem. Crianças não votam e têm direito de reclamar. O voto é facultativo para idosos acima de 70 anos e adolescentes entre 16 e 18. E eles podem reclamar o quanto quiserem, votando ou não. Achar que o voto é um passaporte para o camarote dos direitos é uma visão bem tacanha. Ninguém ganha pulseirinha vip votando, ok?

É errado votar nulo ou em branco?

É melhor escolher um candidato, mas se ninguém faz a sua cabeça, não vote em ninguém. Escolher por escolher é pior. Porque entre tomar um soco no olho direito ou no olho esquerdo eu prefiro não receber soco algum.

Aliás, essa patrulhinha eleitoral é meio hipócrita. Se você não vota em ninguém mas acompanha e cobra os políticos eleitos, ótimo. Você faz o seu papel. Muito mais do que o sujeito que vota em qualquer um e depois fica só reclamando “Onde vai parar esse país, hein?” Não votar, anular ou votar em branco é um posicionamento como qualquer outro. E a única pessoa que pode cobrar posicionamento de alguém é diretor de filme pornô.

Voto é a coisa mais importante em uma democracia?

É importante, mas sozinho não faz uma democracia. Além do voto tem que ter divisão de poder entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, garantir imprensa livre e liberdade partidária, pelo menos. Em algumas ditaduras o povo até vota, mas a oposição é perseguida, o que torna a eleição um troço bem fajuto.

A democracia é o melhor regime político?

Winston Churchill cunhou essa frase: “A democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais formas que têm sido experimentadas ao longo da história”. A frase é boa, mas Churchill era chegado a um whisky, pode ter confundido as coisas em um pileque, vai saber? Mas sim, é um bom regime. Só que pode melhorar.

Minha sugestão de aprimoramento é essa: trocar as eleições por um processo igual ao usado por setores de RH em empresas: entrevista, teste psicotécnico e dinâmica de grupo. Muitos candidatos não passariam nem da 1ª fase, o que economizaria recursos e evitaria dores de cabeça. Se Brasília quiser adotar, por favor me creditem pela ideia.

Uma última dica

Cuide da democracia e das eleições da mesma forma como você cuida do seu celular. Sim, aquele cujo manual você não leu: não deixe cair, molhar e muito menos que roubem. Porque tem sempre alguém querendo afanar de nós.