6 filmes filosóficos na Netflix que são diamantes para os olhos e o cérebro Glen Wilson / Netflix

6 filmes filosóficos na Netflix que são diamantes para os olhos e o cérebro

Fomos programados para reagir aos mais insólitos cenários de adversidade, a fim de que permaneçamos com algum cacife no jogo da vida, que cobra de nós a resolução desses problemas, no menor tempo possível, porque não demora e outras questões tão ou mais vultosas irão se impor. Nelson Rodrigues foi um dos escritores mais geniais da história do Brasil. Observador arguto dos costumes — e da hipocrisia — de nosso povo, Nelson centrava fogo no que considerava de mais nocivo na natureza do homem — e do brasileiro, em particular: sua sanha por poder, por subjugar o semelhante, por se achar melhor que os outros, por querer se dar bem a qualquer custo, tomando por premissa a mediocridade e a baixeza da classe média. Bons tempos em que as pessoas tiravam ensinamento até da vulgaridade de uma folha de jornal, sobre a vida, mas também acerca da morte. Aliás, a indesejada das gentes intriga a humanidade desde que o mundo é mundo. Lidar com a finitude nunca é tão simples, e quanto mais cheio de particularidades doloridas o cenário se apresenta, mais insustentável a morte se torna. Martha Weiss tem de encarar a perda inesperada da filha que acabou de nascer e logo percebe que as tantas complicações que a tragédia suscita podem ser igualmente perversas. A protagonista de “Pieces of a Woman” (2020), do diretor húngaro Kornél Mundruczó, literalmente incorporada pelo talento de Vanessa Kirby, come o pão que o diabo amassou, mas ninguém sabe se o digeriu. A senhora que fecha todas as portas se revela em toda a sua feiura numa guerra, arrasando tudo o que encontra pela frente, a começar pela verdade, até chegar à honra. É o que se vê em “Dunkirk” (2017), do britânico Christopher Nolan, que narra a história dos mais de 300 mil soldados que lutavam contra Adolf Hitler na costa francesa durante a Segunda Guerra Mundial, mas são encurralados pelas tropas do facínora. “Pieces of a Woman”, “Dunkirk” e mais três títulos, lançados entre 2021 e 2014, todos no acervo da Netflix, deixam claro que a vida ensina mesmo. Só nos resta aprender.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.