7 filmes na Netflix que ensinam mais que aulas de história

7 filmes na Netflix que ensinam mais que aulas de história

A verdade é como o sol. Quanto mais longe nos mantivermos dela, menos nos queimamos. Ou, ainda, a verdade igual à poesia: ninguém se atreve a dizer, mas não gosta dela. As duas frases, reveladoras na sua natureza cínica, mas, com o perdão do pleonasmo, verdadeiras, de uma simplicidade possível somente numa roda de amigos num botequim qualquer, são um pouco mais objetivas quanto a definir o pensamento de Karl Marx (1818-1883) acerca do tema. O gênio do alemão, filósofo, economista, homem de imprensa — o que, também por isso, o obrigava a fazer-se claro à maior quantidade de gente que pudesse —, historiador e sociólogo, brilhara quando lhe ocorreu elucubrar acerca do falseamento da verdade e, por conseguinte, da história, que, segundo ele, poderia se repetir, sim, mas só mediante duas circunstâncias: ou como tragédia ou como farsa, ambas imensuravelmente danosas à humanidade — ainda que a primeira configuração soe muito mais aterradora. A máquina de impressão por tipos móveis de Johannes Gutenberg (1400-1468) talvez seja a invenção mais revolucionária a já tomar forma pelas mãos do homem. Numa única página de jornal ou de um livro podem caber os mais diversos gêneros de informação, por exemplo, pronunciamentos de líderes que fizeram a diferença na história da humanidade, para o bem ou para o mal, se empenhando em salvá-la ou se devotando em jogar fora a água suja do banho — com o bebê junto. Mesmo o argumento politicamente correto — e inegavelmente calhorda — da preservação das árvores não se sustenta, haja visto o cultivo de espécies de menor valor agregado, empregadas apenas com o fim de produzir celulose, a matéria-prima do papel, e, claro, a tecnologia, que tornou viável armazenar num dispositivo milhares de publicações. Todavia, não se pode acatar tudo o que aparece escrito sem se questionar rigorosamente nada, imaginando que todas as coisas ali têm a natureza de verdade absoluta. Há mistificadores para todo lado — inclusive na imprensa, ou melhor, em especial na imprensa —, e, lamentavelmente, a categoria se espraia por amplos setores da sociedade, o que inclui a academia e mesmo as escolas de ensinos fundamental e médio. Por falta de conhecimento específico ou geral, má-fé, negligência intelectual ou uma boa pitada de tudo isso — e pelo caráter eminentemente democrático da estupidez humana, a “burritsia”, a classe mais ignorante de um povo, acaba levando a melhor. São necessários séculos para se fomentar e estabelecer o conhecimento, mas em menos de quatro anos tudo já pode ter ido à breca. Nunca conhecemos o fato como um todo, e tanto pior se se trata de episódio tão particular e tão mal-documentado como uma guerra-relâmpago numa nação periférica, a exemplo do que se apresenta em “Jadotville” (2016), dirigido por Richie Smyth. Detalhes da prisão de um guerrilheiro de esquerda durante um regime totalitário também são revelados em “A Noite de 12 Anos” (2018), do uruguaio Álvaro Brechner, o que horroriza e intriga  espectadores das mais distintas colorações ideológicas, as duas produções e mais cinco, lançadas entre 2012 e 2021, todas no acervo da Netflix. Se você endeusava aquele professor de história pelo jeitão de Che Guevara (1928-1967), meio idealista além da conta, e bastante convincente nas suas exposições, está na hora de mandar as máquinas pararem e fazer um mea culpa.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix