Poesia é tudo quanto o homem encontra de belo na vida. Pode se apresentar sob sua forma mais clássica, versos, mas também dá o ar de sua graça em canções, peças de teatro e, não raro, desabrocha sem nenhuma inibição diante de milhões de espectadores na tela grande. Fizemos um esforço nada extenuante e elencamos os dez filmes mais poéticos que o cinema já produziu — é claro que há muitos outros, mas para fecharmos em apenas dez, foram esses os que mais nos chamou a atenção, por uma razão ou outra. “A Morte de um Caixeiro Viajante” (1951), de László Benedek, por exemplo, faz justiça à inclusão por traduzir para a língua do cinema todo o lirismo da peça de Arthur Miller. Já “Asas do Desejo” (1987), de Wim Wenders, vale a menção devido à originalidade da trama, conduzida de forma a fazer o público sonhar, sem resvalar nunca na pieguice. Os títulos são citados conforme o ano de estreia, do mais recente para o mais antigo, e não seguem critérios de avaliação. Abra a janela e se lance para a poesia.
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A chegada do novo professor de inglês e literatura transforma a rotina dos estudantes de um tradicional colégio graças a seu método de ensino irreverente. Ele motiva seus alunos a ingressar na Sociedade dos Poetas Mortos, o grupo fundado por ele quando discente da escola. Para esse mestre do bom viver, a poesia salva e sua forma tão peculiar de ver o mundo à luz dos versos os encoraja a também ter uma vida extraordinária. “Sociedade dos Poetas Mortos” foi uma sensação quando de seu lançamento, mérito da abordagem nada pomposa sobre a poesia no cotidiano e em como a arte poética nos é muito mais familiar do que pensamos, ao falar das pequenas e grandes desgraças dos maiores expoentes da arte de escrever em versos. O nome pouco solar pode deixar alguns ressabiados, mas a história surpreende.

Taisto perde o emprego numa mina no interior da Finlândia para pouco depois, recém-chegado à capital, Helsinque, sofrer um assalto e ficar sem suas escassas economias. Ou seja, terá de pensar logo numa maneira de ganhar algum dinheiro. A partir daí, “Ariel” começa sua trajetória de filme noir numa Helsinque muito diferente da que o espectador conhece — ou imagina. Uma mulher e seu filho aproximam-se dele. Sucedem alguns eventos que acabam por levá-lo à prisão, onde conhece o misterioso Mikkonen. Os dois vão estabelecendo um vínculo e juntos começam a confabular, a fim de elaborar um plano para fugir.

Na Berlim do pós-Segunda Guerra, Bruno Ganz dá vida ao anjo Damiel, que perambula pela cidade bisbilhotando a vil existência dos simples mortais com seu colega Cassiel, de Otto Sander. Tudo vai bem, até que entra em cena a trapezista Marion, interpretada por Solveig Dommartin. Como ninguém, nem mesmo os anjos, podem ter tudo, Damiel terá de optar entre viver essa grande paixão ou continuar em sua missão celestial. Destaque para a participação do inesquecível Peter Falk, o eterno detetive Columbo, fazendo uma ponta como si mesmo ao aconselhar o anjo antes que ele tente se jogar sem rede rumo ao mais humanos dos sentimentos.

Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, Bill se envolve numa briga e acaba matando um homem numa usina, em Chicago. A única saída é fugir; ele toma a namorada Abby e partem rumo ao interior do Texas. Eles conseguem trabalho numa fazenda de trigo e vão ficando íntimos do patrão. Ao saber que está com os dias contados, Bill convence a namorada, que se passa por sua irmã, a se casar com o fazendeiro, a fim de que possam herdar o patrimônio dele no futuro. A história transcorre sem maiores reviravoltas, tendo na casa do fazendeiro o centro da trama, até que os planos de Bill começam a fazer água: Abby se apaixona pelo fazendeiro, e esse forasteiro perspicaz e ardiloso se transforma num intruso em sua própria vida.

Como indica o título, este filme do prolífico e versátil Robert Altman se concentra em três personagens femininas: Millie, Pinky e Willie. Millie é funcionária de um centro de reabilitação para idosos e é encarregada de treinar Pinky, recém-contratada. De cara, Millie conquista a simpatia de Pinky, passando mesmo a exercer um fascínio sobre ela. As duas começam a dividir um pequeno apartamento num condomínio onde também moram Edgar e a mulher dele, Willie, uma artista avessa à interação com os vizinhos. Willie se dedica a pintar sempre as mesmas figuras, homens e mulheres que se apresentam sob a forma de deuses e que parecem brigar. O relacionamento entre as três vai se estreitando aos poucos, até que não saibam mais quando uma começa ou termina.

Um homem por volta dos 40 anos descobre que vai morrer e relembra o passado, os tempos de paz e a guerra. O enredo perpassa os sentimentos e emoções de Alexei, bem como suas lembranças. Ele pensa na tristeza da mãe depois de ser abandonada com um filho pelo homem que amava, nos horrores que um conflito armado inexoravelmente traz e em seu tempo de menino. Com recordações tão íntimas e profundas, o filme projeta um resumo da história da própria Rússia. A jornada de Alexei serve de espelho da existência de qualquer ser humano ou como espelho da vida do próprio diretor, que em tantas ocasiões falou sobre o quanto essa obra era-lhe cara, precisamente por aludir a passagens de sua infância, que se refletiram em quase todas as suas escolhas pessoais e como artista.

A enfermeira Alma é contratada para assistir Elisabeth Vogler, uma atriz que pouco a pouco desenvolveu uma doença psiquiátrica e acabou tendo um surto numa das apresentações de “Electra”, de Sófocles, preferindo se isolar e ficar num massacrante silêncio. As duas seguem para a casa da administradora de uma clínica de repouso. Alma e Elisabeth vão se tornando amigas e a enfermeira passa a confidenciar à atriz seus segredos mais impublicáveis — sua traição ao marido, a orgia que fizera com um adolescente e um aborto — a fim de tentar com essa inusitada terapia fazê-la reagir. Elisabeth continua muda, mas surpreende Alma ao escrever uma carta na qual revela quem sua cuidadora é de verdade.

Uma atriz francesa casada vai à cidade de Hiroshima trabalhar num filme sobre a paz. Ela se envolve com um arquiteto japonês, também casado, enquanto a esposa dele está viajando. Nos dois dias em que vivem esse tórrido e inesperado affair, lembranças veem à tona. Ela conta, por exemplo, que foi presa e teve os cabelos tosados ao se apaixonar durante a Segunda Guerra Mundial por um alemão, aos 18 anos, e que só conseguiu a liberdade no dia em que seu amor foi morto, já no desfecho dos conflitos. Por ter dado vazão a esse sentimento, sua família a renegara e, passados 14 anos, ela volta a ter de enfrentar a tristeza de amar o homem errado.

Willy Loman, um caixeiro-viajante, se orgulha da carreira, ao longo da qual fez grandes amigos e amealhou uma reputação de respeito. Mas agora está velho, seus clientes já morreram, não goza mais do reconhecimento de outrora e recebe uma miséria pelas raras vendas que consegue fazer. Ainda tem o amor dos filhos, Happy e Biff, para quem prepara um futuro brilhante. Mas Biff, que volta a casa depois de estudar e trabalhar no Texas, percebe o ocaso do pai e tem outros planos, o que Willy não admite. Cada vez mais depauperado e tendo de aceitar a caridade dos outros, Willy começa a se ensimesmar cada vez mais. Já completamente fora de si, incapaz de distinguir sonho e realidade, Willy entrega-se à loucura, vergonha que sua mulher tenta mitigar do restante da família e da sociedade.

Em “O Segredo da Porta Fechada”, uma jovem mulher rica em viagem ao México conhece Mark, pelo qual logo se apaixona. Tudo o que ela sabe a seu respeito é que se trata de um arquiteto que edita uma revista. Apesar de tanto mistério, aceita se casar com ele lá mesmo, onde também passam a lua-de-mel. Não demora muito e ela começa a sofrer com a personalidade excêntrica do marido. A vida em comum tem início de fato e ela vai morar na casa dele. Só aí ela sabe que ele já foi casado — a mulher morrera há algum tempo — e é pai de um adolescente. Outras revelações sobre a vida de Mark vão se sucedendo, como ser obcecado por quartos em que se cometeram assassinatos que se tornaram célebres, uma fixação tão vívida que o faz reconstituir, entusiasmadamente, essas cenas em seu circo de horrores particular.