Um refúgio em Jane Austen

Um refúgio em Jane Austen

Ele lhe disse poucas e boas. Não economizou palavras. Ela ouvia, cabisbaixa, enquanto lágrimas lhe corriam sobre a face. No entanto, ele se mantinha impávido; era só certeza e arrogância.

Disse-lhe que nunca teria nada na vida; que era irresponsável; que não tinha respeito ao dinheiro. Desfiou o costumeiro rosário de acusações.

A ele, pouco importava o amor que a mulher lhe dedicava. Os mimos e presentes que dela recebia o irritavam. Sabia que se traduziriam em faturas de cartão de crédito pagas, invariavelmente, em atraso; em cobranças insistentes por telefonemas que lhe infernizavam a vida.

Em breve, completariam 20 anos de casados. Tempo em que nunca houve paz financeira naquele lar. No entanto, as visões conflitantes em relação ao dinheiro nunca arrefeceram o amor que nutria por ele. Tinha esperança de que seu jeito duro, orgulhoso e, por que não dizer, preconceituoso era excesso de preocupação; zelo. Afinal, era um homem responsável e ela o amava também por isto.

Orgulho e Preconceito, de Jane Austen (Penguin-Companhia, 511 páginas)

Costumava fantasiá-lo como seu Mr. Darcy, o herói antipático do romance de Jane Austen, que dedicou tanto amor à heroína, Elizabeth Bennet, a ponto de desembolsar uma pequena fortuna para salvar a família da amada. Mas, ao contrário de Elizabeth, acreditava que seu marido era um homem bom, embora sentisse que a rispidez das palavras que lhe dirigia aumentava, ultimamente.

Mais uma vez, pegou o livro, já surrado de tão lido, e refugiou-se no mundo de seus personagens favoritos.

“‘Se você quer me agradecer’, respondeu ele, ‘que seja apenas por si mesma. Que o desejo de fazê-la feliz pode ter sido um estímulo que me levou a agir, não haverei de negar. Mas sua família não me deve nada. Por mais que os respeite, creio, pensei apenas em você’. Elizabeth estava envergonhada demais para dizer palavra. Após uma breve pausa, seu companheiro acrescentou: ‘Você é generosa demais para brincar comigo. Se os seus sentimentos ainda são como eram em abril, diga-me de uma vez.’”

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