O amor nos tempos de alta da bolsa

O amor nos tempos de alta da bolsa

O dinheiro tinha um papel relevante na vida dele. Tão relevante que o impedia de ver riquezas maiores que estavam ao seu redor. Já para ela, o tesouro, a riqueza maior era ele, embora por mais que se esforçasse em mimos e atenção ele não conseguisse enxergar. Estava preocupado demais com as finanças para se permitir desfrutar um pouco do tanto que ela se dava. Era sobre a medida entre seu amor pouco correspondido e as finanças bem-sucedidas do marido que ela pensava enquanto sozinha bebia sua taça do melhor vinho que podia comprar.

A ambição humana vinha nos últimos tempos absorvendo seus pensamentos. Embarcar ou não na jornada financeira do marido para tentar conquistar sua atenção? Ou manter-se como uma estrada para levá-lo a ter experiências além da satisfação do dinheiro guardado?

Desvendar a alma humana não era seu forte. Mas estava impactada pela história de Philip Carey o personagem central de “Servidão Humana”. O romance filosófico de Somerset Maugham relata o longo caminho de realização pessoal de Philip, órfão de pai e mãe, que encontra na sua travessia personagens densos, alguns de caráter maleável, cada qual com sua ambição.

Ao contrário dela, que se entrega, Mildred, a figura sem peito, magra e sem atrativos, explora Philip sem nenhuma culpa. Essa relação deprimente vai transformar Philip, mas antes ele perderá tudo o que herdou numa sequência malsucedida de operações no mercado de ações.

A traição de Mildred e do mercado de ações foram moldando o caráter de Philip em sua longa jornada. Mas para ela a competição era mais dura porque aquele era um período em que as ações brasileiras só subiam. Havia uma esperança, contudo. Como havia lido num livro de finanças pessoais, este é um mercado de risco e um dia o preço das ações iria cair. Ela aguardava esse momento com ansiedade porque então seu marido poderia valorizar o grande investimento que era ela e seu amor verdadeiro.