O Brasil é o findo mundo

O Brasil é o findo mundo

O Brasil está acabando. É a prova concreta, factual, do tempo que se encerra, do mundo que finda. O Brasil é o findo mundo. Os sinais estão aí, para quem os quiser ver. Só́ não veem os que não querem, os que optaram pela cegueira voluntária, os conformados, as mulas ideológicas da esquerda e da direita e os sádicos. Os tarados pela desgraça.

Nos filmes de catástrofe sobre um mundo chegando ao fim, as geleiras desabam, revoadas de pássaros estouram das árvores, ondas gigantes invadem as cidades no litoral, o vento arranca os telhados das casas, pessoas fogem em desespero e carros se arrebentam uns contra os outros no trânsito, em sua fuga inútil do apocalipse irreversível.

Aqui no Brasil dos extremos, o fim do mundo se anuncia de outras formas. Na truculência orgulhosa, na violência gratuita, em nossa facilidade colossal para agredir o que nos parece estar “do lado de lá”.

Na desaparição dos livros, na extinção das livrarias, no horror das massas pela leitura, na falência dos museus, casas de cultura, bibliotecas e outros guetos da vida inteligente que resiste, apanhando de todos os lados, o país avisa que passou da hora.

Na ignorância em suas inúmeras formas, o Brasil nos assegura que já deu o que tinha que dar. No dedo podre dos eleitores, capazes de eleger os radicais mais imbecis à esquerda e à direita e ignorar o resto. Na ausência de projetos reais para corrigirmos tantos erros e no desinteresse por tudo que exija um instante de reflexão.

Ao pularmos de um avião acreditando na sensação de que estamos voando, quando na verdade estamos caindo — e se não puxarmos logo a cordinha do paraquedas vamos nos arrebentar ali embaixo —, assinamos uma declaração pública de que o Brasil está em queda livre.

Em nossa incapacidade para o afeto, na preguiça de pensar, na recusa do contraditório, no elogio da burrice, na conivência deprimida com o abuso, o Brasil agoniza seus limites.

Na demonização do meio-termo que transforma todo adepto do caminho do meio em alguém que está “em cima do muro”. Na intolerância, na violência descarada, pública, endêmica. Na crença ingênua de que vender revólveres a uma população mal-educada vai combater o crime. Em tudo o país grita “é o fim”.

O Brasil está acabando, sobretudo, em nossa incompetência para compreender que a questão não é mais se vai acabar ou não: é no que vamos fazer para recomeçá-lo em cima do que aí está. A questão é encontrarmos um jeito de reconstruir o findo mundo.

Recomecemos, pois.