O cinema pode ter diversas fontes de inspiração: a vida, o teatro, os livros… Aqui, nesta lista, selecionamos algumas das melhores obras disponíveis na Netflix que foram inspiradas pela literatura. Não apenas as páginas dessas histórias se tornaram fenômenos mundiais, conquistando milhares de fãs em diversos países, como os filmes também impressionaram por sua transposição ajustada para as telas, com uma compactação no nível ideal, sem suprimir partes significativas das obras literárias, mas oferecendo novos significados e metáforas por meio das imagens.
Não, os filmes não exatamente simplificam os livros, eles os sintetizam, embora o tempo cinematográfico quase sempre exija que as histórias sejam encurtadas. Detalhes são retirados, mas saber contextualizar tudo para que nada perca sentido ou significado na tela faz parte da construção das obras-primas de diretores talentosos. Foi o caso de Francis Ford Coppola, que não apenas transpôs a história da família Corleone, de “O Poderoso Chefão”, para as telas, mas a aprimorou, criando um marco sem precedentes no cinema.
Um bom diretor sabe escolher as cenas perfeitas do livro e capturá-las por meio de lentes carregadas de emoção e simbolismo. Sabe usar os diálogos para manter o interesse do espectador, em vez de entediá-lo. Sabe construir sequências que criem a tensão dramática ideal para sustentar a narrativa. Os filmes desta lista são verdadeiros modelos de como usar a literatura a favor do cinema, e vice-versa.

Um jovem alemão, entusiasmado pelo patriotismo e pela promessa de glória, alista-se voluntariamente para lutar na Primeira Guerra Mundial ao lado de seus amigos. Chegando ao front, é imediatamente confrontado com a dura realidade das trincheiras: frio, fome, lama e a morte cotidiana que ronda cada passo. Ao longo do tempo, vai perdendo os companheiros e a própria inocência. A brutalidade dos combates, a distância emocional dos oficiais e a desumanização da guerra revelam o absurdo do conflito. Enquanto os políticos discutem tratados e armistícios, os soldados seguem morrendo por centímetros de território. O soldado, transformado física e emocionalmente, luta não mais por um ideal, mas pela simples sobrevivência. Em um ambiente em que a vida vale menos que a honra, o tempo passa sem alívio, e o fim parece sempre mais cruel do que libertador.
Ataque dos Cães (2021), Jane Campion

No interior árido de Montana dos anos 1920, dois irmãos administram um grande rancho. O mais velho, carismático e cruel, impõe uma presença dominante sobre todos à sua volta. Quando o irmão mais novo retorna com uma nova esposa e seu filho adolescente, a dinâmica entre eles muda drasticamente. O recém-chegado tenta se adaptar ao ambiente hostil, enquanto o dono da casa vê sua autoridade ameaçada. O garoto, introspectivo e sensível, torna-se alvo de intimidação e provocações constantes. A tensão se intensifica com jogos psicológicos, ressentimentos ocultos e segredos que espreitam por trás dos gestos de afeto. Com o tempo, uma relação complexa se desenvolve entre os dois homens, marcada por manipulação, fragilidade e um silêncio opressivo. Em meio à brutalidade do cotidiano rural, o passado e a sexualidade reprimida convergem para um desfecho devastador.

Dois jovens crescem juntos em um bairro pobre de Nova York e descobrem, ainda na juventude, que estão apaixonados. Ela trabalha para ajudar a sustentar a família e descobre que está grávida pouco depois que ele é preso por um crime que não cometeu. A prisão arbitrária do rapaz mobiliza não apenas a jovem, mas toda a sua família, que parte em uma jornada exaustiva em busca de justiça. O processo legal se revela lento, desigual e permeado de racismo estrutural. A gravidez avança enquanto a liberdade se torna cada vez mais distante. O amor entre os dois, porém, resiste ao tempo, ao sofrimento e à opressão. Entre encontros na prisão, memórias felizes e a luta diária por dignidade, a história acompanha o amadurecimento emocional de uma mulher determinada a reconstruir o futuro da sua família, mesmo diante da mais cruel das realidades.

Em meados dos anos 2000, alguns analistas financeiros fora do radar detectam algo estranho no mercado imobiliário americano. Ao examinarem os dados, percebem que há uma bolha prestes a estourar e apostam contra o sistema, acreditando que o colapso é inevitável. Enquanto são desacreditados pelos bancos e ridicularizados pelos colegas, seguem firmes em suas convicções, investigando contratos obscuros e a ganância por trás dos investimentos em massa. Paralelamente, dois jovens investidores iniciantes descobrem o mesmo risco e decidem entrar no jogo, com a ajuda de um veterano aposentado. A narrativa acompanha o desencadeamento da crise de 2008, expondo os erros, fraudes e omissões do sistema financeiro, além das consequências devastadoras para milhões de pessoas comuns. A vitória dos poucos visionários vem acompanhada de um amargo senso de impotência e indignação.

Um jovem matemático genial ingressa em uma prestigiosa universidade, onde suas ideias inovadoras despertam admiração e desconfiança. Obcecado por encontrar um padrão que o consagre como um pensador revolucionário, ele se isola socialmente, até conhecer uma aluna que transforma sua vida pessoal. Convidado a colaborar em um projeto secreto para o governo, vê sua rotina se tornar cada vez mais paranoica. Conforme mergulha nas teorias e códigos que acredita estar decifrando, começa a perder o contato com a realidade. As fronteiras entre o que é real e o que é alucinação se confundem, levando-o a enfrentar um diagnóstico devastador. Ao longo dos anos, entre internações e recaídas, tenta reconstruir sua carreira e sua dignidade com o apoio inabalável da esposa. Uma trajetória de superação marcada pelo poder da mente, mas também por sua vulnerabilidade.