Estes 9 livros fazem todo mundo fingir que leu — mas os dados mostram que quase ninguém passou da página 50

Estes 9 livros fazem todo mundo fingir que leu — mas os dados mostram que quase ninguém passou da página 50

Há livros que se tornaram senhas — não porque foram lidos, mas porque servem para abrir portas. Eles repousam nas estantes como medalhas silenciosas, símbolos de uma sofisticação que, muitas vezes, só se completa no enunciado: “Já li.” Não se trata de impostura maldosa, nem sempre. Há nisso algo do instinto de pertencimento, da necessidade quase infantil de ser aceito por um grupo que acredita, ou finge acreditar, que certas leituras definem caráter, inteligência, sensibilidade. Mas há também, sim, um certo constrangimento: poucos admitem que não passaram da página cinquenta, que abandonaram o livro na primeira curva difícil, que desistiram no exato ponto em que a linguagem deixou de acolher e começou a repelir.

É curioso como algumas obras se tornam mais importantes pelo que representam do que pelo que dizem. Elas flutuam acima das nossas biografias reais como estátuas de mármore, bonitas de longe, imponentes demais para serem tocadas. O peso do cânone — essa palavra que soa como sentença — impõe a certos títulos uma aura de dever moral. Ler vira obrigação. E a obrigação, quase sempre, mata o prazer. O tempo, que já é escasso, se torna refém de uma culpa cultural sutil, daquelas que ninguém confessa em voz alta. Então seguimos dizendo que lemos, quando, na verdade, apenas tocamos a superfície, como quem acaricia a capa e imagina o conteúdo.

Ainda assim, esses livros continuam a habitar o imaginário. E talvez seja esse o paradoxo mais fascinante: não é preciso lê-los até o fim para que nos habitem. Bastam algumas páginas, um parágrafo retido por acaso, um trecho sublinhado no escuro da adolescência, para que nos sintamos — de certo modo — parte do clube. Há, em cada abandono, uma tentativa sincera. E há beleza até mesmo na desistência, porque ela revela algo essencial: nem todo grande livro foi feito para ser atravessado — alguns foram feitos para nos testar. Outros, apenas para serem carregados como um espelho. E isso — eu acho — já é leitura bastante.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.