5 livros que mudaram a minha vida — e podem mudar a sua

5 livros que mudaram a minha vida — e podem mudar a sua

A história do homem é a história de sua paulatina evolução. A humanidade só subiu tão alto graças à capacidade de dividir conhecimento acerca de assuntos os mais prosaicos, como o melhor lugar da floresta para se caçar ou que alimentos ingerir ou não sem correr o risco de cair fulminado por uma substância tóxica, por exemplo. O vigor físico também contou, evidentemente, mas sem um cérebro em avanço constante jamais teríamos subjugado os bichos que considerávamos mansos, fazendo-os trabalhar para nossa diversidade calórica, nosso conforto, nossa proteção. Depois, a fim de ser capaz de vencer feras mais corpulentas e ferozes, os ancestrais do homo sapiens sapiens criaram ferramentas como tacões, lanças e fundas e, assim, ampliaram seus territórios. O próximo passo foi dominar o fogo, criar a pólvora e a sorte do gênero humano estava dada.

Cada homem é um universo particular, com suas ideias próprias, suas vontades próprias, necessidades as mais íntimas e todos os sonhos, principalmente os que sabe que pode nunca alcançar. Para o homo sapiens sapiens, a espécie mais curiosa encontrada sobre a Terra, é extremamente difícil submeter-se a regramentos opostos a sua formação contestatória. Malgrado fundamental para a vida em sociedade, a fim de suportarmo-nos uns aos outros, enquadrar-se não tem quase nada de prazeroso. Somos um reflexo, embora muito mais ameno, da própria natureza, indisciplinada, selvagem, caótica. 

Uma pletora de questionamentos éticos pulula na cabeça de cada indivíduo sobre a face da Terra, e cabe a cada um de nós, seres dotados de razão, tomar a atitude mais adequada a fim de levar a vida adiante. Em “O Suicídio” (1897), obra máxima de Emile Durkheim (1858-1917), o sociólogo francês elabora uma verdadeira gênese da morte achada pelas próprias mãos. Durkheim disserta sobre três formas de suicídio: o egoísta, o altruísta e o anômico. O suicida egoísta é o que comete o ato tresloucado de tirar a própria vida sob a motivação da mais desalentadora ausência de vínculos sociais; o suicídio consumado por razões altruístas era corriqueiro em povos ancestrais, a fim de se preservar a coesão de uma sociedade ou de um grupo religioso; e a modalidade da extrema autoflagelação dita anômica se dá quando existe uma equivalência entre o aumento das taxas de suicídio e os índices de desemprego e a consequente pauperização de determinados estratos sociais. Questões perniciosas, como se vê.

Mas os livros salvam os homens e os homens, quem sabe, remedeiem a humanidade. Escolhi, desculpem-me a petulância, cinco publicações de autores e tempos diversos sobre as quais posso testemunhar sem medo a eficácia quanto a aplacar a impressão terrível de não ver lógica algum nessa patética jornada terrena. Fiódor Dostoiévski (1821-1881), claro, encabeça minha lista, e confesso que é uma tarefa inglória não dedicar-lhe todo o espaço. Sempre que leio o conto, publicado num longínquo 1877, tenho a sensação de que 1) Dostoiévski é cada vez mais atual e 2) o homem insignificante que vaga pelas ruas mal-iluminadas de uma São Petersburgo gélida sou eu, derretendo ao sol tropical de um

Rio de Janeiro, num sorriso humilhado para a admiração cínica do mundo. Voltar a “A Marca Humana” (2002) é também dessas experiências sempre necessárias, tanto pela sofisticação da pena de Philip Roth (1933-2018) como pela urgência do assunto, denúncia do poder aterrador do politicamente correto e da monumentosa penúria intelectual de certa elite.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.