Volta ao mundo em 12 livros que você (ainda) não leu — mas deveria

Volta ao mundo em 12 livros que você (ainda) não leu — mas deveria

Tudo que é verdadeiramente importante parece, à primeira vista, pequeno demais. Discreto demais. Um pouco deslocado, talvez. É assim com certas pessoas, certos gestos — e com certos livros. Aqueles que não explodem em listas, que não empilham prêmios em vitrines iluminadas, que não se tornam hashtags nem viram série. Livros que seguem outro ritmo. Ou melhor: que não pertencem a ritmo algum além do da própria linguagem.

Este percurso — uma volta ao mundo através de 12 desses livros — não foi guiado por mapas turísticos da literatura, mas por fissuras. Por pequenas rachaduras na superfície global do que se consome, do que se premia, do que se republica. Há, em cada um desses romances, uma recusa sutil. Um gesto de torção. O autor romeno que transforma Bucareste num organismo alucinado, onde realidade e delírio disputam vísceras. A escritora japonesa que enfia seus personagens numa fábrica onde o absurdo não é exceção — é a norma. A brasileira que deixa o vento soprar até desmanchar a lógica narrativa inteira. E por aí vai.

Você pode sentir, ao lê-los, uma estranheza morna no início. Um tipo de desconforto que não repele, mas também não acolhe. Porque esses livros não estão tentando te conquistar. Estão tentando te deslocar. E fazem isso aos poucos — com frases longas que não têm pressa, com silêncios que dizem mais do que os diálogos, com personagens que não gritam, mas doem.

Há um escritor húngaro nesta lista cuja prosa caminha em círculos como se o tempo estivesse preso num lamaçal metafísico. Um norueguês que observa a burocracia como quem mapeia a dissolução do eu. Uma autora irlandesa que insinua, com a delicadeza de quem corta sem levantar poeira, que a compaixão ainda é possível mesmo onde o Estado, a Igreja e a comunidade falham. E não, não há gritos. Nem soluções.

O que une essas vozes — e são muitas: africana, ibérica, asiática, latino-americana — não é uma agenda, nem um estilo. É uma espécie de fidelidade. Ao detalhe. Ao que escapa. Àquilo que, de tão verdadeiro, mal pode ser dito. E por isso precisa ser narrado com estranheza, hesitação, beleza. Não são livros para serem “recomendados”. São livros que aguardam. Que ficam. À margem, mas pulsando.

Lê-los é quase como escutar uma história numa língua que você ainda não domina, mas que o corpo compreende. Tem cheiro de madeira molhada, som de noite sem ruído, textura de papel gasto. E talvez seja isso — apenas isso — que ainda nos salva. A literatura que não quer nos entreter, mas nos inquietar.

E, se tudo der certo, nos transformar. Mesmo que em silêncio.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.