Desafio Nobel de Literatura: Você leu no máximo 8 livros desta lista de 75 — e isso diz mais sobre o mundo do que sobre você

Desafio Nobel de Literatura: Você leu no máximo 8 livros desta lista de 75 — e isso diz mais sobre o mundo do que sobre você

Num mundo onde 86% da literatura traduzida se concentra em apenas cinco idiomas — e onde os algoritmos premiam o rápido, o vendável e o replicável — ler autores ganhadores do Prêmio Nobel tornou-se um raro ato de resistência. Esta lista reúne 75 livros — um por cada autor laureado entre 1950 e 2024 — todos disponíveis em português e reconhecidos como obras-primas por críticos, acadêmicos e, em muitos casos, pela própria história da linguagem.

Mas aqui vai o dado essencial: mesmo entre leitores experientes, poucos ultrapassam a marca de oito. Isso não mede ignorância. Mede acesso, tempo, estrutura de ensino, política editorial — e, acima de tudo, o abismo entre o que é considerado essencial e o que realmente chega às mãos das pessoas.

Este desafio não quer saber quantos best-sellers você leu. Quer saber se você já encostou em Camus e não entendeu, se largou Pamuk no segundo capítulo, se sublinhou Szymborska como quem sublinha a própria dúvida. Porque esta lista, mais do que uma prova de leitura, é um espelho do mundo: desigual, lento, denso — e lindamente difícil de decifrar.

Quantos desses livros você leu até o fim? Quantos ainda vai tentar?


1950 — Bertrand Russell → História da Filosofia Ocidental (1945)


1951 — Pär Lagerkvist → Barrabás (1950)


1952 — François Mauriac → Thérèse Desqueyroux (1927)


1953 — Winston Churchill → Memórias da Segunda Guerra Mundial (1948-1953)


1954 — Ernest Hemingway → O Velho e o Mar (1952)


1955 — Halldór Laxness → Gente Independente (1934-1935)


1956 — Juan Ramón Jiménez → Platero e Eu (1914)


1957 — Albert Camus → O Estrangeiro (1942)


1958 — Boris Pasternak → Doutor Jivago (1957)


1959 — Salvatore Quasimodo → Dia Após Dia (Poesias Escolhidas) (1947)


1960 — Saint-John Perse → Anábase (1924)


1961 — Ivo Andrić → Ponte Sobre o Drina (1945)


1962 — John Steinbeck → As Vinhas da Ira (1939)


1963 — Giorgos Seferis → Mitistorema (1935)


1964 — Jean-Paul Sartre → O Ser e o Nada (1943)


1965 — Mikhail Sholokhov → O Don Silencioso (1928-1940)


1966 — Shmuel Yosef Agnon → Hóspede por uma Noite (1939)


1966 — Nelly Sachs → As Chaminés (1947)


1967 — Miguel Ángel Asturias → O Senhor Presidente (1946)


1968 — Yasunari Kawabata → País de Neve (1947)


1969 — Samuel Beckett → Esperando Godot (1952)


1970 — Aleksandr Solzhenitsyn → Arquipélago Gulag (1973)


1971 — Pablo Neruda → Canto Geral (1950)


1972 — Heinrich Böll → O Palhaço (1963)


1973 — Patrick White → Voss (1957)


1974 — Eyvind Johnson → O Retorno de Ulisses (1946)


1974 — Harry Martinson → Aniara (1956)


1975 — Eugenio Montale → Ossos de Sépia (1925)


1976 — Saul Bellow → Herzog (1964)


1977 — Vicente Aleixandre → A Destruição ou o Amor (1935)


1978 — Isaac Bashevis Singer → A Família Moskat (1950)


1979 — Odysseas Elytis → Louvada Seja (1959)


1980 — Czesław Miłosz → Mente Cativa (1953)


1981 — Elias Canetti → Auto de Fé (1935)


1982 — Gabriel García Márquez → Cem Anos de Solidão (1967)


1983 — William Golding → O Senhor das Moscas (1954)


1984 — Jaroslav Seifert → Poesias Escolhidas (1920-1980)


1985 — Claude Simon → A Estrada de Flandres (1960)


1986 — Wole Soyinka → A Morte e o Cavaleiro do Rei (1975)


1987 — Joseph Brodsky → A Musa em Exílio (1972)


1988 — Naguib Mahfouz → Trilogia do Cairo (1956-1957)


1989 — Camilo José Cela → A Família de Pascual Duarte (1942)


1990 — Octavio Paz → O Labirinto da Solidão (1950)


1991 — Nadine Gordimer → O Melhor Tempo é o Presente (1991)


1992 — Derek Walcott → Omeros (1990)


1993 — Toni Morrison → Amada (1987)


1994 — Kenzaburō Ōe → Uma Questão Pessoal (1964)


1995 — Seamus Heaney → Norte (1975)


1996 — Wisława Szymborska → Correio Literário — ou Como Se Tornar (ou Não) um Escritor (2000)


1997 — Dario Fo → Morte Acidental de um Anarquista (1970)


1998 — José Saramago → Ensaio sobre a Cegueira (1995)


1999 — Günter Grass → O Tambor (1959)


2000 — Gao Xingjian → A Montanha da Alma (1990)


2001 — V. S. Naipaul → Uma Curva no Rio (1979)


2002 — Imre Kertész → Sem Destino (1975)


2003 — J. M. Coetzee → Desonra (1999)


2004 — Elfriede Jelinek → A Pianista (1983)


2005 — Harold Pinter → A Volta ao Lar (1965)


2006 — Orhan Pamuk → Meu Nome é Vermelho (1998)


2007 — Doris Lessing → O Carnê Dourado (1962)


2008 — J. M. G. Le Clézio → Deserto (1980)


2009 — Herta Müller → Tudo o que Tenho Levo Comigo (1998)


2010 — Mario Vargas Llosa → A Festa do Bode (2000)


2011 — Tomas Tranströmer → Mares do Leste (1974)


2012 — Mo Yan → Sorgo Vermelho (1986)


2013 — Alice Munro → Fugitiva (2004)


2014 — Patrick Modiano → Rua das Lojas Escuras (1978)


2015 — Svetlana Alexievich → Vozes de Tchernóbil (1997)


2016 — Bob Dylan → Blowin’ in the Wind (1962)


2017 — Kazuo Ishiguro → Vestígios do Dia (1989)


2018 — Olga Tokarczuk → Sobre os Ossos dos Mortos (2009)


2019 — Peter Handke → Ensaio sobre o Louco por Cogumelos (2013)


2020 — Louise Glück → Poemas 2006-2014 (2023)


2021 — Abdulrazak Gurnah → Paraíso (1994)


2022 — Annie Ernaux → Os Anos (2008)


2023 — Jon Fosse → Melancolia (1995)


2024 — Han Kang → A Vegetariana (2007)


Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.