Jacques Audiard mistura musical, thriller e melodrama para compor uma narrativa audaciosa sobre transformação e justiça. “Emilia Pérez” acompanha um narcotraficante decidido a redesenhar o próprio destino ao se tornar uma mulher e reparar o rastro de violência que deixou. Filmado em estúdios parisienses, o longa desafia convenções com sua estética artificial e pulsação política inusitada.
À primeira vista, o enredo poderia ser confundido com mais um exercício do cineasta sobre o intelectual deprimido em crise de meia-idade. Joaquin Phoenix dá vida a Abe Lucas, professor de filosofia soterrado pela apatia e pelo álcool, cuja presença na universidade provoca tanto curiosidade quanto repulsa. No entanto, o que parece um retrato caricato de autocomiseração intelectual logo se desdobra em outra coisa: uma experiência perturbadora sobre a fragilidade das convicções éticas quando confrontadas com a ilusão do heroísmo moral.
Ambientado nos anos finais da década de 1920, “Serena” é um mergulho sombrio no desejo, no poder e na ruína, conduzido pela intensidade hipnótica de Jennifer Lawrence. Sob a direção precisa e inquieta de Susanne Bier, o filme escapa do melodrama tradicional e adota uma cadência própria, onde o amor vira guerra silenciosa, os gestos delicados escondem ameaças iminentes e a floresta torna-se palco de uma tragédia inevitável.
Em “O Atirador: Missão Secreta”, o veterano Brandon Beckett enfrenta não apenas inimigos armados, mas as engrenagens corrompidas de um sistema que sabota seus próprios agentes. Ao se infiltrar numa rede de tráfico humano com conexões institucionais e tentáculos que se estendem até a alta administração federal, o sniper descobre que a verdadeira guerra não se trava com fuzis, mas entre ordens dúbias, lealdades frágeis e verdades ocultas por conveniência.
No interior inglês dos anos 1920, uma jovem criada atravessa um domingo aparentemente comum que se revelará definitivo. Entre o luto de uma geração marcada pela guerra e os interditos sociais de uma aristocracia em declínio, ela transforma o desejo clandestino em ponto de partida para a escrita, desafiando, com sensibilidade e firmeza, os papéis a ela impostos desde o nascimento — e abrindo caminho para uma voz que não mais será silenciada.
