É na corda tênue entre a pureza do amor e a rispidez de seus aspectos práticos — coroados pelos reveses que sempre soem pegar-nos a todos no contrapé do ramerrão do cotidiano —, que Marta Minorowicz equilibra o seu “Delírio”, crônica sobre o malogro de um casamento a que tem a ousadia de acrescentar elementos de fino suspense, deixando mais pesadas as máscaras sob as quais se refugiam seus personagens.
O submundo do crime exige certa medida maior de arrojo, muito mais que nas atividades protegidas por leis e estatutos, ou seja, sobressair é difícil e se manter vivo — metafórica e literalmente — é só para os que têm sangue de predador correndo nas veias. Muito mais que em qualquer outro ramo, aquele que aspira ao sucesso em atividades extralegais precisa deixar que venha à tona um lado cinzento, reprimido na personalidade de quem trabalha honestamente.
Em seu terceiro longa-metragem, Natalia Beristain continua a tratar de muitos dos obstáculos que interditam-nos a felicidade, mas dessa vez resolve ir um pouco mais fundo na análise psicossocial do objeto que se propõe dissecar. À diferença de “No Quiero Dormir Sola” (2012) e “O Eterno Feminino” (2017), “Ruído” remexe os arquivos mortos de um México incapaz de virar a página dos desaparecimentos em plena democracia, a maior parte em alguma medida vinculados ao império dos narcocartéis
Filmes conceituais no espaço sempre chamam minha atenção. Além de uma preocupação estética aguçada, há também uma coerência científica. Por mais irrealistas que sejam, eles se preocupam em respeitar ao máximo leis e teorias científicas. Não são apenas lacradores ou infantis. “Ad Astra” é um dos filmes mais subestimados do subgênero. Inspirado por grandes obras e diretores da cinematografia, poderia ter sido, em tempos com menos bombardeio de filmes para ganhar dinheiro, um grande sucesso.
A vida prepara surpresas que não estamos prontos para receber. A gente pode até controlar, até certo ponto, nosso destino, mas as águas que nos levam cadenciam ao ritmo do vento, que jamais podemos prever. Fernando Pessoa já dizia que “viver não é preciso”. Não há bússolas, mapas, orientações geográficas, absolutamente nada que nos garanta o que vem a seguir. “Um Mar de Esperança” é sobre exatamente sobre isso. Sobre como conduzimos o barco, mas não a maré.
