Filmes

O personagem de Jack Lowden, protagonista de “Calibre”, de Matt Palmer, dá a impressão de estar um tanto deslocado frente à importância do caminho pelo qual se decidiu, se é que decidiu alguma coisa. Por essas e outras, aceita sem tergiversar o convite de Marcus, de Martin McCann, para uma caçada nas Terras Altas da Escócia, no noroeste do país, mesmo sem saber atirar e sequer demonstrar o mínimo gosto pela atividade. Conforme o enredo avança, vai ficando cada vez mais claro que sua vontade é apenas satisfazer o amigo, mas essa amizade revela um lado sombrio, insuspeito até então.

Os momentos mais sublimes da vida de Martha Weiss, a personagem de Vanessa Kirby em “Pieces of a Woman”, transformam-se numa agonia que o diretor, o húngaro Kornél Mundruczó, prolonga quase ao desespero com um plano-sequência dos mais liricamente perturbadores e esmerados do ponto de vista técnico. Logo, o que se vai assistir é à morte de uma pequena família e do amor entre uma mulher e um homem.

Um noir turco dirigido por Uluç Bayraktar, “10 Dias de um Homem Bom” navega por diversos gêneros ao contar a complexa história do detetive Sadik, que investiga o desaparecimento de um rapaz. Enquanto o filme desenrola sua trama, conhecemos o passado conturbado de seu protagonista e sua luta pela reconstrução de sua identidade e autoestima. Sua vida parece a retornar aos eixos quando conhece a bela Fatma, que traz de volta a delicadeza e o amor para seu mundo.

“Eli”, do irlandês Ciarán Foy, abusa de tudo quanto o gênero tem de mais expressivo na intenção de provocar no espectador as reações que o levam a questionar conjunturas que passam por naturais, mas que escondem raciocínios e visões de mundo perversas a respeito de problemas complexos cuja equação depende muito de pequenas revoluções no que toca a esses aspectos aparentemente comezinhos da vida, com seus tantos momentos de agonia e dor.

Carol Walker, Gillian Lieberman e Helen Halston, as personagens de Angela Bassett, Patricia Arquette e Felicity Huffman em “Mãe e Muito Mais”, de Cindy Chupack, casaram-se cedo demais, foram mães cedo demais, tiveram suas desilusões conjugais em momentos em que talvez ainda não fossem maduras o bastante e se costumaram à verdade falseada de que viver é isso mesmo, uma sucessão de desenganos, frustrações, hipocrisia e tédio, tédio à mancheia, que o casamento e, o principal, os filhos, os santos filhos transmutam toda mágoa em plenitude.