Não me aguento mais. Vou embora. O último que sair apaga a luz

Não me aguento mais. Vou embora. O último que sair apaga a luz

Chega. Cansei de mim. Faz tempo que venho me aturando, fingindo que a minha presença não me incomoda. Só que agora, realmente, não dá mais. Não suporto meus passos sempre apurados, minhas passadas largas e aquela pisada torta. Ando muito rápido, vivo numa maratona interna competindo comigo mesma, quando poderia, pelo menos uma vez ou outra, me sentar no banco da praça e ver a banda passar.

Nosso medo é um tremendo tapa na cara

Nosso medo é um tremendo tapa na cara

Logo de saída, nas inúmeras situações em que ele se apresenta (ou se esconde) o medo, ou o Medão — pai de todos os medos, mesmo os mais chinfrins — se protege com um séquito de desculpas, as mais esfarrapadas. Ou deslavadas possíveis. A gente vive, desde pequeninos, fazendo de conta que o medo não é medo. É outra coisa. Veste nele uma fantasia de conveniência, explicações baratas, apaziguamentos fortuitos endereçados à nossa exasperada e sempre vigilante consciência.

A gratidão é uma flor sentida, delicada e bela

A gratidão é uma flor sentida, delicada e bela

Numa cidade do interior, dessas que existem para além do tempo, para dentro de uma lembrança, uma cidadela entre o nada e o lugar nenhum, recanto de meia dúzia de vidas onde a beleza mora nas coisas minúsculas e nos gestos simples, uma vila onde a vida se passa no chão, sob as árvores, junto aos bichos e às plantas, ali vive um homem agradecido. É bom você não esperar muito dele. Não é pessoa de tantas habilidades, não foi capaz de grandes feitos, não realizou amplas obras agrícolas, não construiu famílias centenárias nem inventou mecanismos revolucionários de aproveitamento da água da chuva. É só um homem comum, mas guarda no peito uma rara gratidão.

“O único meio de falar a verdade é falar sempre com amor”

“O único meio de falar a verdade é falar sempre com amor”

Desde que descobri o mundo da escrita, tenho pensado muito na minha avó materna Ida Catarina. Ela era uma mulher forte, vibrante e batalhadora e, por meio das cartas que escrevia, deixou para nossa família mensagens de amor e fé em forma de poesia. Minha avó não tinha o ensino primário completo e mesmo assim foi poeta. Algumas vezes, fica tão difícil encontrar as palavras trancadas aqui dentro que preciso pedir a sua ajuda. Então, eu mentalmente envio uma carta para ela.

Amor à pátria é o cacete. Eu gosto mesmo é de dinheiro

Amor à pátria é o cacete. Eu gosto mesmo é de dinheiro

É época de eleições no Brasil. Os ânimos e a intolerância estão exaltados, e o país parece muito claramente dividido em duas vertentes políticas que, ao menos nos discursos dos candidatos e nas bravatas das redes sociais, parecem antagônicas. Se bem que, depois que o Homem Sem Dedos e O Caçador de Marajás beijaram-se na boca, nada mais parece tão diferente e inovador como se supunha.