Quando eu crescer vou virar criança

Quando eu crescer vou virar criança

Juro de pé junto, viu. Cruzo os dedos. A praga já está rogada por mim mesma, diante do espelho grande do meu quarto que oscila entre alheio-e-alienado. Envelheça quem quiser, a cada dia que passa. Eu não. Faço caras e bocas e me posiciono ereta desafiando a dona cronologia. Miro com um estilingue bem no meio dos olhos do tempo e pimba! Foi-se a desaceleração da vida, a palidez e tremulações, comuns ao avançar da idade.

Amai-vos uns aos outros, mas só se for pra valer

Amai-vos uns aos outros, mas só se for pra valer

Não. Eu não quero um empréstimo consignado. Eu não quero informações privilegiadas de um ex-diretor do Banco Central que atua no mercado financeiro. Eu não quero saldo ilimitado no cartão de crédito. Aliás, eu não quero que me enviem mais cartão algum com a primeira anuidade grátis. Eu não quero as menores taxas de juros do mercado. Eu não quero que você faça “aquele meio campo” pra mim durante a reunião. Eu não quero ser promovido a nada.

No fundo, nós estamos com medo Peeking

No fundo, nós estamos com medo

O policial acorda cedinho e beija seu filho como se fosse a última vez antes de ir pro trabalho. Hoje ele sabe, será mais um dia de enfrentamento da Tropa de Choque. E seus olhos se enchem de culpa quando o seu filhinho lhe faz prometer que sim, o papai irá voltar para casa. A professora do Ensino Fundamental público respira fundo antes de entrar na sala do oitavo ano, e reza baixinho uma prece que sua mãe lhe ensinou para as causas perdidas. Ela coloca a mão sobre o rosto para lembrar-se do hematoma, que já nem existe mais, no seu olho esquerdo. É que a dor de levar um soco do aluno que não aceitou ser repreendido dói para sempre.

Viver é aceitar. Aceite

Viver é aceitar. Aceite

Que venha. Seja lá o que for, venha. A gente aceita. Encara, luta, cai, levanta, vai em frente. Aceita o que foi, o que é e o que vem. Não, nós não somos permissivos, acomodados, medrosos, trouxas. Nós somos gente. E a gente aceita. Aceita até mesmo quando rejeita, recusa, esperneia, grita. A gente aceita o inaceitável em conclusão íntima. O teto desaba, o assoalho rompe, as paredes apertam. E a gente aceita.

Não é nada fácil ser mulher-calendário

Não é nada fácil ser mulher-calendário

Cena de abertura: Mulheres-calendário, com peitos em 3D, sorrisos famintos e bundas mais redondas que abóboras colhidas em generosa chácara. As línguas, parecendo saltar da enorme e coloridíssima peça gráfica, como às de camaleões safados. Nubentes do diabo isso sim, eram as 12 moças que pulsavam naquele calendário, postado em parede-de-honra- nas principais oficinas mecânicas da capital. Uma peça, cuja renda da aquisição pelos donos das oficinas destinou-se a asilos de badaladas atrizes de filmes pornôs na década de 70.