Era do TikTok: suspense e tecnologia se misturam em filme na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Era do TikTok: suspense e tecnologia se misturam em filme na Netflix

Há algo de profundamente simbólico na escolha de “M3GAN” como o primeiro grande lançamento de um novo ciclo cinematográfico. Não apenas por seu apelo estético e comercial, mas porque sintetiza, com notável precisão, a crise de identidade do cinema de gênero no século 21. Um filme que se apresenta como inovação, mas cuja espinha dorsal remonta a arquétipos exaustivamente explorados. Como um algoritmo treinado em referências, M3GAN recicla traumas e temores já conhecidos, da possessividade homicida de “Brinquedo Assassino” à lógica inescapável de “O Exterminador do Futuro”, e os recompõe em uma embalagem adaptada ao imaginário digital da era TikTok.

Delírio e fantasia: ícone do cinema é recriado, amparado pelo inegável talento de Timothée Chalamet Divulgação / Warner Bros.

Delírio e fantasia: ícone do cinema é recriado, amparado pelo inegável talento de Timothée Chalamet

Se há algo mais difícil do que criar magia no cinema é recriá-la a partir de um legado. “Wonka” parte dessa tarefa espinhosa com ares de desafio criativo: não se contenta em apenas recontar a gênese do icônico chocolatier de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, mas arrisca em algo mais ambicioso: tecer um novo imaginário sobre um velho conhecido, sem trair o encanto original nem se curvar à nostalgia preguiçosa.

Filme que é como se Steven Spielberg estivesse em um divã na terapia está na Netflix Divulgação / UPI

Filme que é como se Steven Spielberg estivesse em um divã na terapia está na Netflix

Steven Spielberg, um dos mais hábeis artesãos do entretenimento moderno, assina com “Os Fabelmans” algo que ultrapassa a habitual maestria técnica de sua filmografia: uma espécie de autoexame silencioso, um gesto de reconciliação entre o menino fascinado por imagens e o adulto que passou a vida inteira traduzindo emoções em linguagem cinematográfica. Ao contrário das homenagens ruidosas ao próprio ego que tantas vezes emergem quando diretores voltam-se ao seu passado, este filme escolhe o sussurro ao invés do grito.

A obra mais deslumbrante de Spielberg está na Netflix (e quase ninguém viu) Divulgação / UPI

A obra mais deslumbrante de Spielberg está na Netflix (e quase ninguém viu)

Spielberg retorna às origens sem nostalgia fácil, convertendo memórias em perguntas profundas sobre vocação, afeto e o poder do olhar. “Os Fabelmans” é menos confissão do que reconstrução: uma infância filmada como quem tenta entender, e não apenas recordar. É ali, entre trilhos de brinquedo e silêncios familiares, que o cinema deixa de ser ofício e vira necessidade vital.

5 livros brasileiros que deviam ser usados como castigo, não como leitura

5 livros brasileiros que deviam ser usados como castigo, não como leitura

Existem livros tão densos — ou tão sinceramente estranhos — que parecem escritos sob encomenda para tortura emocional. Ou para testes de resistência. São obras que desafiam a lógica, a paciência e, às vezes, o bom gosto. Mas que, de algum modo, sobrevivem. E sobrevivem porque há algo ali, entre a pretensão e o devaneio, que nos atrai como abismo. São textos que não pedem empatia: exigem fôlego. E talvez um calmante. Ou uma taça. Porque no fim das contas, não é todo dia que a literatura nos escolhe como alvo.