Na minha época não era melhor

Na minha época não era melhor

Cedo demais para ficar mal-humorado. Ainda assim, aborreci-me. Pulei cedo da cama de campanha, fui escovar os dentes, mas me deparei com a bisnaga de dentifrício espremida até o talo, a qual eu havia deixado sobre a Telefunken. Miseravelmente, eu me esquecera de passar na farmácia do Geraldino para comprar Kolynos. De toda forma, o velho farmacêutico recusava-se a me vender fiado ou a aceitar os meus cheques. Não o culpava pela falta de deferência. Além de estar desempregado há meses, a minha caligrafia era ininteligível.

6 livros nórdicos que valem cada milésimo de segundo do seu tempo

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Em meio ao gelo, ao silêncio e às vastidões invernais, alguns livros não apenas contam histórias — eles sussurram segredos antigos, reverberam emoções contidas e revelam camadas profundas da existência. São narrativas que recusam pressa, mas que recompensam cada segundo de entrega com uma beleza rara e quase selvagem. Seis obras nórdicas contemporâneas, escritas com lirismo, precisão e um olhar afiado sobre o humano, merecem ser lidas devagar, com a escuta atenta de quem sabe que há fogo sob a neve. Palavra por palavra, elas transformam.

Fahrenheit 451: Bradbury, Cioran e a última fagulha na Avenida Paulista

Fahrenheit 451: Bradbury, Cioran e a última fagulha na Avenida Paulista

Numa era em que tudo convida à distração, pensar tornou-se um gesto insubordinado. Este ensaio percorre as camadas de uma distopia elegante, onde o silêncio foi abolido e a memória, dissolvida. Entre personagens que hesitam, lembram, se curvam ou resistem, emerge a suspeita incômoda de que o maior inimigo da consciência não é a repressão violenta — é a renúncia voluntária. Escrito com fulgor crítico e eco filosófico, o texto propõe uma leitura radical do presente, em que esquecer é fácil demais, e lembrar exige coragem. Há livros que ferem. Outros que despertam. E há os que, como este, fazem os dois.

4 livros menos conhecidos de Dostoiévski que você precisa ler

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À sombra dos romances monumentais que fizeram de Dostoiévski um pilar da literatura mundial, existem obras mais discretas que, embora menos badaladas, abrigam uma força emocional e filosófica igualmente arrebatadora. São livros curtos, intensos, repletos de angústia, ternura, loucura e questionamentos existenciais que saltam da página como se exigissem ser ouvidos. Neles, não encontramos heróis — apenas almas dilaceradas, presas em dilemas que ressoam profundamente com os nossos.

O livro que destruiu amizades, casamentos e clubes de leitura inteiros

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Não é o suicídio que “As Virgens Suicidas” tenta explicar, mas o silêncio que o precede — e o desamparo de quem insiste em romantizá-lo. Jeffrey Eugenides não escreve sobre a morte: escreve sobre a ausência de escuta, a fetichização do feminino e a falência emocional de uma sociedade que transforma meninas em mitos antes de deixá-las existir. Nesta crítica, a obra é lida não como enigma, mas como denúncia. Não há consolo, apenas a fricção entre memória, culpa e o que nunca poderá ser compreendido de verdade.