Breve diário do desencanto 3
Adoramos suspirar — quando vivemos em uma cidade grande, enorme, gigantesca, abissal — e falar sobre a impessoalidade de viver em um lugar assim, da solidão dos centros urbanos, de como somos anônimos e blá blá blá, mas não é verdade. A verdade é que mesmo os lugares mais assustadores e cinzentos são feitos de pessoas. Tem sempre gente ali. Boa e ruim. Engraçada, sacal, babaca. Pessoas com coisas para ensinar e mostrar e dizer, ainda que não com palavras. E antes que isto descambe para autoajuda de quinta categoria, permita que eu me adiante e conte que, apesar de morar em São Paulo, não vivo, mesmo, em São Paulo. Vivo em um bairro.