Autor: Eberth Vêncio

Odeio meu pai

Odeio meu pai

O amor morreu dentro de mim da pior maneira possível: devagarinho, aos poucos, até que um dia: finitum est. Vidas que se apartaram por uma vírgula. Melhor: pela falta dela. Eu preferiria, mil vezes, ter dito ou escrito “Odeio, meu pai”. Nada mais formal para qualquer ser humano. Afinal de contas, em maior ou menor conta, todos desse mundo odeiam alguém ou alguma coisa.

O voto é secreto, mas, a intolerância é explícita

O voto é secreto, mas, a intolerância é explícita

As próximas eleições vão ser um porre. Você acredita que o velho Mojo condecorou o fantasma do Almirante Ultra em pleno plenário do Senado? O cara torturava estudantes com penas de ganso. Não brinca com coisa séria, Meg. Ele era o demônio de farda. Não consigo me concentrar com você falando feito uma tagarela. Tá difícil, viu? Vira, por favor. Deixa eu ver se por trás dá certo.

O homem saiu da caverna, mas a caverna não saiu do homem

O homem saiu da caverna, mas a caverna não saiu do homem

Não há monstros maiores do que os comportamentos impensados. Nivelados por baixo, certos instintos primitivos deixam a caverna que há em mim numa plangente sede de justiça. Afundo o corpo na poltrona. Nenhuma equipe de mergulhadores experientes partiu no meu resgate. Estou acocorado na solidão. Minha boca padece seca de palavras. Meus olhos embaçam.

Gente feliz não enche o saco

Gente feliz não enche o saco

Sentei-me, respirando ruidosamente como um animal acuado. Fiquei mirando aquela criatura desagradável, uma mulher madura, vivida, descompensada, uma estranha companhia jazendo no piso do escritório. Ela parecia ridícula. Se pudesse levitar sobre o cenário caótico, é líquido e certo que eu me enxergaria igualmente estrambólico. Tudo parecia teatral demais, surreal demais, um encontro inusitado com péssima sintonia afetiva.