Autor: André J. Gomes

Deixemos de coisa. O que mata mesmo é abrir mão de viver

Deixemos de coisa. O que mata mesmo é abrir mão de viver

Sim. Eu tenho o coração tomado de amor. Sou dessa gente que vai com tudo, caminha na brasa, mergulha na lava, se joga no fogo louco do encontro. Da vida, quero nada senão viver assim. Em chamas. É daí que vem todo o resto. Comigo, essa história de pé atrás não funciona, não. O amor chega e entra com os dois pés e o que mais há em volta. Invade a casa com dez trilhões de células e meia dúzia de lembranças para dividir feito pão e vinho. Contenção no amor é desperdício, sonolência, anticlímax, chateação. Quem sente amor tem a pele fustigada por um raio, voa baixo, treme de susto.

Brigar pra quê? A vida sempre há de nos bater mais forte

Brigar pra quê? A vida sempre há de nos bater mais forte

Escuta cá uma coisa. Por favor, não levante essa mão contra mim. Eu não nasci pra apanhar. Nem eu, nem você e nem ninguém no mundo. Bater para ensinar e apanhar para aprender são perversões ridículas. A gente apanha, a gente sempre apanha. Mas não é certo. Não precisa. Criatura nenhuma tem o direito de agredir a outra, sujeito nenhum tem o dever de sofrer um tapa, um soco, um chute, uma surra que o façam mais atento. Nada disso.

Ninguém sofre por amor. A gente sofre é quando ele falta

Ninguém sofre por amor. A gente sofre é quando ele falta

Quem já andou de amores por aí sabe bem do que se trata. Entende como funciona. Sentir amor é a maior sorte que a vida nos dá. Do sentimento amoroso brota um mundo inteiro de possibilidades novas, vontades honestas, intenções felizes, projetos abençoados. Do amor vem todo o resto. O amor nos empurra para a frente, nos leva adiante. Faz nascer em nós razões irresistíveis e toda sorte de desejos, ímpetos e motivos para romper amarras mesquinhas, vencer torcidas contrárias, superar encalhes derrotistas, evoluir, melhorar. E merecer mais amor.

Cuidarás da tua vida. E a dos outros tu deixarás em paz

Cuidarás da tua vida. E a dos outros tu deixarás em paz

Conta cá uma coisa. Que história é essa de te apossares do arbítrio alheio? Quem te disse ser de tua alçada a desgraça e a alegria dos outros? Larga esse osso, criatura! Aceita e desaparece. Sai daí, deixa de coisa. Passa adiante, liberta-te dessa ideia fixa e pesada do “não é tão simples assim”. Por que não? Quem disse que não se pode simplificar? Anota em tua testa ao contrário e olha no espelho: vive tua vida e deixa a dos outros!

Quanto mais amor a gente tem, mais medo a gente sente

Quanto mais amor a gente tem, mais medo a gente sente

Quem tem amor tem medo. Eu tenho. Todo mundo tem. É assim mesmo, sempre foi. Uns têm mais. Outros, menos. Outros tantos, quase nada. Tem ainda os que morrem de pavor mas vivem negando. De qualquer jeito, toda criatura que sente amor, toda alma que já amou alguém na vida também já sentiu medo. Você pode discordar. Pode ser daquela gente especial, pessoa dotada do superpoder de não ter medo de nada. Eu acredito, invejo. Adoraria ser assim, mas eu não sou, não. Eu sofro de amores e pavores.