Autor: André J. Gomes

Vem pra rua! Mas vê se não esquece a lição de casa, tá?

Vem pra rua! Mas vê se não esquece a lição de casa, tá?

Há muito tempo, num país bem longe daqui, o povo um dia decidiu ir às ruas e fazer a revolução. Basta! Gritavam milhões de pessoas contra o governo corrupto, a roubalheira, os desmandos no poder, os maus políticos e outras mazelas. O mundo estava no início de uma nova era. Depois de séculos de ignorância, medo e dominação, os pagadores de impostos finalmente se deram conta do óbvio: eram eles os maiores culpados da existência de maus políticos no poder. Sim, eles. Em carne, osso e ignorância, eram eles os responsáveis pela permanência dos vampiros nos cargos públicos. Passava da hora de mudar tudo isso. Era tempo de empreender uma poderosa mobilização popular!

Tem sempre um babaca cuspindo ‘sinceridade’ por aí

Tem sempre um babaca cuspindo ‘sinceridade’ por aí

“Desculpe a sinceridade, mas…”, adiantava a criatura perfeita ao primeiro interlocutor que encontrasse. Encantada com o som da própria voz, a inteligência de suas observações, o diâmetro de sua cintura, o brilho de seus dentes e a maciez de suas roupas de baixo, dizia na lata: “você devia se vestir melhor!” A vida inteira havia sido assim. Ajeitando o cabelo, buscava com os olhos uma vitrine, uma vidraça, uma panela areada, um espelho onde mirar o próprio rosto enquanto cuspia mais um de seus julgamentos a sangue frio, sem anestesia, na cara de um dos seus tantos alvos.

Desabafo de um coração em estado de graça

Desabafo de um coração em estado de graça

Os velhos esquecidos nas casas de repouso por descuido dos seus. As crianças descobrindo a beleza. Os desprendidos tocando a vida e deixando a dos outros em paz. Aqueles que olham com afeto velhas fotografias. As pessoas que sorriem à toa tantas vezes, todo dia, lembrando a farra dos cachorros e o humor dos gatos. As mães orgulhosas dos filhos. Os pais esforçados em sua porção de agrados. As almas solitárias sentindo alegria por entender, enfim, que o amor não é o contrário da solidão, mas é a sua solidão dividida com o outro.

Porque a vida sem sonho é o pior pesadelo

Porque a vida sem sonho é o pior pesadelo

Prepara-te. A qualquer instante, quando menos esperares, alguém fará pouco de teus sonhos. Virá de um canto insuspeitado, do seio de tua família, do campo de teus amigos, da multidão de teus estranhos e fará coro com um bando descrente, rasteiro, numeroso e empenhado em manter a rasa normalidade das coisas.