A vastidão do oceano guarda mistérios e ameaças que evocam tanto fascínio quanto terror. Assim como o espaço, as profundezas marítimas permanecem amplamente desconhecidas, um cenário onde o imprevisível reina. Desde os predadores marinhos, que figuram entre as criaturas mais temidas do planeta, até as forças da natureza que transformam um dia pacato em um caos absoluto, o mar é palco de riscos inimagináveis. Ainda mais perturbadora é a perspectiva de isolamento total, estar à deriva sob um sol implacável, vulnerável à desidratação e à exaustão mental e física — um medo explorado com frequência no cinema.
Em “Armadilha em Alto Mar” (2024), essa temática ganha novos contornos ao misturar suspense e terror em um cenário de desespero crescente. A história acompanha Kaya (Isabel Gravitt), que, junto de sua amiga Tessa Miles (Genneya Walton) e dois rapazes, Xander (Koa Tom) e Julian (Garrett Wareing), decide aproveitar uma tarde de lazer no oceano com jet skis. O que começa como uma diversão despreocupada rapidamente se transforma em um pesadelo quando um acidente os separa de Julian e deixa Xander gravemente ferido.
À deriva em mar aberto, Kaya e Tessa encontram uma embarcação que inicialmente parece ser sua salvação. Contudo, a esperança logo se desfaz ao descobrirem que o barco pertence a traficantes de órgãos. Xander é brutalmente sacrificado, e as jovens são mantidas como reféns, iniciando uma luta desesperada por sobrevivência. A narrativa alterna entre a vastidão do oceano e a opressão claustrofóbica do interior do barco, utilizando esses contrastes para amplificar a tensão. A direção explora de forma eficiente esses elementos, destacando tanto o terror do isolamento quanto a angústia do confinamento. A atmosfera criada provoca no espectador um desconforto constante, sustentando a ansiedade ao longo do filme.
Apesar do empenho do elenco em suas performances, o roteiro apresenta fragilidades significativas. A trama, embora tenha potencial, carece de originalidade e profundidade, recorrendo a soluções previsíveis que comprometem seu impacto. Comparado a produções como “Destinos à Deriva” (2018), que conseguiu equilibrar com sucesso o desenvolvimento de personagens e a tensão narrativa, “Armadilha em Alto Mar” se perde ao não explorar plenamente as possibilidades oferecidas por seu contexto.
Outro ponto que enfraquece a obra é a representação das personagens femininas. A escolha de figurinos e enquadramentos que reforçam a sexualização — com foco em biquínis e planos que objetificam as protagonistas — prejudica a narrativa, desviando a atenção de sua vulnerabilidade emocional e diminuindo o peso dramático das situações. Essa abordagem compromete a empatia que poderia ser gerada, tornando a experiência menos envolvente.
Os momentos de tensão, que deveriam ser o ponto alto do filme, falham em causar o impacto desejado. As cenas, muitas vezes previsíveis, não exploram o potencial pleno da premissa, resultando em uma narrativa que se enfraquece conforme progride. Embora tenha elementos que poderiam garantir uma experiência memorável, “Armadilha em Alto Mar” acaba por entregar um suspense superficial que não alcança as profundezas de um verdadeiro thriller marítimo.
★★★★★★★★★★