O filme de Tom Cruise, que levou 188 milhões de pessoas aos cinemas e faturou 4 bilhões nas bilheterias, está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

O filme de Tom Cruise, que levou 188 milhões de pessoas aos cinemas e faturou 4 bilhões nas bilheterias, está na Netflix

Narrativas de ação frequentemente carregam uma dualidade profunda. Superficialmente, oferecem sequências eletrizantes repletas de confrontos diretos, perseguições implacáveis que mantêm o espectador à beira do assento e tiroteios que quase dizimam o herói destemido. Contudo, por trás desse exterior empolgante, escondem reflexões sobre como a humanidade tem se distanciado dos pequenos milagres cotidianos da vida. Tornamo-nos surdos aos apelos silenciosos dos rios, oceanos, florestas e do próprio ar que respiramos, aceitando cegamente a falsa ideia de que o progresso só é alcançado através da destruição sistemática do meio ambiente — um caminho que inevitavelmente leva ao nosso próprio declínio.

Diante de enredos assim, é possível enxergar o mundo como uma avenida infinita que serpenteia por uma cidade sem fim, onde vagamos sem direção nas horas silenciosas que precedem o amanhecer. À medida que nos aprofundamos nesse labirinto de concreto e escuridão, acreditando ingenuamente estar próximos da saída, nossa certeza sobre a direção correta se esvai. Restanos apenas continuar essa jornada às cegas, na esperança de que uma alma benevolente nos guie até a segurança. Cada instante se transforma em um tesouro inestimável, e cada batida do relógio pode ser a última oportunidade crucial para alcançarmos a redenção almejada.

Tom Cruise encarna com maestria esses personagens messiânicos que buscam salvar a humanidade de seus próprios erros, movidos por princípios e motivações que permanecem envoltas em mistério. Seu Ethan Hunt, o anti-herói mais duradouro do cinema, já soma mais de vinte e cinco anos escalando penhascos, saltando de pontes, aprendendo a pilotar helicópteros na prática e, fundamentalmente, sustentando produções cujo orçamento ultrapassa centenas de milhões de dólares. Essas histórias não apenas excedem as tradicionais duas horas de duração, mas também permanecem ecoando na mente do público por semanas. É o caso de “Missão: Impossível — Nação Secreta” (2015), onde Cruise e o diretor Christopher McQuarrie iniciam uma parceria de sucesso que continua em “Missão: Impossível — Efeito Fallout”  (2018) e promete novas sequências em 2023 e 2024.

Nesta trama, McQuarrie começa a delinear os elementos que serão aprofundados em “Missão: Impossível — Efeito Fallout” . Ethan Hunt, já praticamente uma extensão de Cruise, descobre a existência do Sindicato — uma rede clandestina de ex-agentes da CIA que operam à margem do conhecimento público, executando missões secretas. Como é comum em organizações poderosas que escapam ao crivo da lei, surge dentro do Sindicato um grupo chamado Apóstolos. Essa facção bioterrorista, sem objetivos claramente definidos além de semear o caos através de manifestos apocalípticos, infiltra-se na Força Missão Impossível por meio de um enigmático indivíduo conhecido como John Lark, que planeja roubar plutônio suficiente para construir não uma, mas três bombas nucleares. Em “Nação Secreta”, o diretor apenas sugere esses novos desafios para Hunt, concentrando-se sabiamente no desenvolvimento de Solomon Lane, o psicopata interpretado de forma magistral por Sean Harris, cuja ameaça Hunt precisa neutralizar. Apesar de várias reviravoltas que culminam no confronto entre os dois, Lane continua a atormentar o protagonista, como fica evidente em “Missão: Impossível — Efeito Fallout” .

Um dos acertos notáveis de McQuarrie é não depender exclusivamente do protagonista (que sempre correspondeu com excelência), mas investir em um elenco de apoio excepcional. É difícil apontar quem se destaca mais entre tantos talentos — seja Alec Baldwin como Alan Hunley, o chefe da FMI que oferece um vislumbre dos dilemas éticos aprofundados no filme de 2018; Simon Pegg como Benji, o carismático e atrapalhado agente da CIA; ou Ving Rhames como Luther Stickell, o aliado imponente e gentil. Contudo, se for para realçar uma performance, a escolha recai sobre Rebecca Ferguson no papel de Ilsa — a evidente homenagem à icônica personagem de Ingrid Bergman em “Casablanca” (1942), dirigido por Michael Curtiz. A semelhança é impressionante, e assim como a complexa heroína de Bergman, a audácia de Ilsa adiciona uma camada cativante a “Missão: Impossível — Nação Secreta”. Esse relacionamento tenso e quase autodestrutivo entre ela e Hunt proporciona alguns dos momentos mais envolventes tanto deste filme quanto de sua sequência.


Filme: Missão: Impossível — Nação Secreta
Direção: Christopher McQuarrie
Ano: 2015
Gêneros: Thriller/Aventura/Ação
Nota: 10/10