Karol Józef Wojtyła, nascido em 1920, ascendeu ao papado em 16 de outubro de 1978, tornando-se João Paulo 2º, o primeiro pontífice polonês e eslavo da história e o primeiro papa não italiano desde 1522, com a eleição de Adriano VI. Seu papado, que se estendeu por 26 anos, foi marcado por uma liderança firme, equilibrando um espírito combativo com um desejo constante de promover o bem-estar da humanidade e a salvação espiritual. A força moral de João Paulo 2º serviu como inspiração para diversas gerações, incluindo figuras como Jan Adam Kaczkowski, sacerdote polonês que dedicou sua curta vida a causas de grande relevância, especialmente no campo da bioética, tema que o fascinou desde seus dias no seminário de Gdańsk.
Mesmo após sua morte precoce, aos 39 anos, vítima de um glioblastoma, Kaczkowski continua a ser lembrado por seu compromisso com os valores humanitários e espirituais. Em “Padre Johnny”, o diretor Daniel Jaroszek presta uma homenagem criteriosa e sensível a essa figura, traçando um retrato sem hagiografias, equilibrado e cuidadoso, que captura a essência do sacerdote sem exageros. Jaroszek concentra sua narrativa na obra pastoral de Kaczkowski, em vez de explorar seu legado acadêmico, optando por mostrar o impacto humano e espiritual que o padre causou em vida.
O roteiro assinado por Maciej Kraszewski se destaca ao evitar os lugares-comuns esperados de uma narrativa religiosa, logo rompendo com as convenções ao inserir uma cena impactante em que jovens consumem drogas durante uma festa. Essa abordagem ousada é seguida por uma transição rápida para um ambiente de missa, e em seguida, uma sequência de violência entre gangues, ilustrando a dualidade entre pecado e redenção que permeia toda a trama. Kraszewski parece entender bem o desejo do público por uma narrativa menos maniqueísta e se apoia nessa tensão entre o sagrado e o profano para estabelecer o tom do filme. A habilidade de Jaroszek em traduzir essa dialética para a tela é o que mantém o interesse do espectador, evitando que o filme se perca em didatismos ou se torne excessivamente moralizante. A relação entre os dois protagonistas centrais, o carismático padre Johnny, interpretado por Dawid Ogrodnik, e o desajustado Patryk, vivido por Piotr Trojan, é onde o filme encontra seu maior trunfo, ao explorar os conflitos éticos e morais que se desenrolam ao longo da narrativa.
Com o passar do tempo, a aproximação entre Johnny e Patryk, inicialmente forçada pelas circunstâncias, evolui para uma amizade genuína e sem artifícios. Esse vínculo é a chave que impulsiona o filme para além dos clichês típicos de histórias de redenção, dando-lhe profundidade emocional e autenticidade. Jaroszek aproveita ao máximo o roteiro de Kraszewski, criando uma narrativa sólida e envolvente, onde cada cena é cuidadosamente trabalhada para manter o ritmo e o interesse do público. Um dos pontos altos da trama é o envolvimento de Patryk na clínica filantrópica fundada por Johnny, destinada a pacientes terminais.
Esse arco narrativo é especialmente bem trabalhado, proporcionando uma crítica sutil às hierarquias da Igreja, personificadas na figura do arcebispo Roman Zalewski, interpretado de maneira convincente por Joachim Lamza. A atuação de Patryk, que cresce em importância ao longo do filme, acaba por ofuscar, em certos momentos, a figura de Johnny, que é frequentemente retratado sob uma ótica laudatória. No entanto, essa escolha narrativa reforça a mensagem central do filme: a humanidade está repleta de falhas e imperfeições, mas é justamente por meio dessas fraquezas que a redenção se torna possível. Assim como Cristo foi crucificado ao lado de dois ladrões, Patryk, em sua imperfeição, ecoa a figura do “bom ladrão”, trazendo para o filme um senso de esperança e transformação.
Filme: Padre Johnny
Direção: Daniel Jaroszek
Ano: 2022
Gênero: Drama
Nota: 8/10