Decepção do Oiapoque ao Chuí. Mais uma vez, não levamos nenhum prêmio Nobel. Nem de Química, nem de Física, nem de Educação Física, nem de Moral e Cívica… Mas desta vez eu consegui achar um motivo para que nós nunca tenhamos levantado esse caneco. Eu vi na televisão que, quando sai um prêmio, os caras da Academia Sueca se reúnem e fazem uma ligação telefônica em viva voz para o contemplado, que quase sempre é pego de surpresa. E é aí que está o problema dos brasileiros.
Ninguém no Brasil atende mais telefonemas, principalmente se for de um número desconhecido! A gente já sabe que número desconhecido é telemarketing ou golpe. Se for número internacional, então, é golpe na certa! Se algum químico ou físico ou até escritor brasileiro recebeu o Nobel, certamente não atendeu o telefone.
— Não está atendendo! — diz um sueco para o outro.
— Liga de novo.
— Já liguei 5 vezes. E agora?
— Bom, vamos ter que dar o prêmio para o segundo colocado.
Talvez essa seja a explicação para o Brasil nunca ter sido contemplado com um Nobel.
Ou não.
Muita gente aqui pensa assim: “Tudo bem, os prêmios de Química, Física e Medicina não dá mesmo para a gente ganhar, mas os caras podiam dar uma força pelo menos no de Literatura!”.
Mas não foi desta vez. A vencedora do prêmio Nobel de Literatura foi a coreana Han Kang, autora do livro “A Vegetariana”, que li e gostei. Foi o segundo Nobel para os coreanos, o primeiro de Literatura. Acho que foi merecido, não sou eu que vou dizer, o que importa mesmo para a gente aqui é que mais uma vez o Brasil não levou o prêmio.
Alguns de nossos vizinhos latinos podem tirar onda por terem autores que ganharam o Nobel de Literatura: os argentinos, os peruanos, colombianos, chilenos, mas nós não temos nenhum. Não foi por falta de candidatos, vários autores brasileiros podiam ter levantado a taça para a gente: Jorge Amado, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, João Ubaldo… Cada um de nós vai citar alguém que acha que merecia, mas a verdade é que os velhinhos suecos nunca se ligaram muito na nossa literatura. Para eles, o Brasil é só o país do futebol. Talvez, se o Pelé tivesse escrito algum livro, eles prestassem atenção, mas não rolou, e agora, com o nosso futebol em baixa, nenhum jogador literato teria chances.
O fato é que, mesmo a nossa língua, o português, só recebeu um prêmio Nobel e o laureado foi, é claro, de Portugal. Quem levantou o caneco foi José Saramago, que escreve em português ou algo bem próximo. Vários grandes da literatura mundial também não ganharam o Nobel: Borges, Philip Roth, Proust, Joyce, Nabokov, Paulo Coelho… Brincadeira, Paulo Coelho não ganharia, afinal de contas, ele é brasileiro e não joga futebol.
Dizem que os velhinhos suecos que escolhem o vencedor são os mesmos desde 1901, quando o prêmio começou, e eles acham um saco quando alguém os lembra de que já está na hora de escolher mais um escritor para ganhar o Nobel.
— Ah, não! De novo?
— É, já passou mais um ano.
— Mas eu não li nada este ano! Estou vendo seriados na Netflix e estou sem tempo.
Então alguém dá uma pilha de livros para os velhinhos escolherem o novo premiado. Eles se esforçam para ler uns dois ou três livros e decidem quem é o laureado. Será que é por isso que os últimos vencedores do Nobel só escreviam livros fininhos?