Keanu Reeves sempre teve uma conexão forte com as artes marciais, um vínculo que começou a ser moldado em “O Grande Dragão Branco” de 1989 e foi profundamente reforçado pela franquia “Matrix”. Nessas produções, Reeves não apenas se dedicou intensamente ao treinamento físico, mas também mergulhou em diversas disciplinas marciais, habilidades que ele continuou a aplicar em outros filmes de ação ao longo de sua carreira. Sua associação com esse gênero é quase inseparável, tornando difícil imaginar seu nome sem evocar as cenas de luta marcantes que protagonizou.
Por isso, não é surpreendente que Reeves tenha decidido explorar ainda mais esse universo, mas desta vez do outro lado das câmeras. Em 2013, ele estreou como diretor em “O Homem do Tai Chi”, um projeto onde as artes marciais são o elemento central. O filme é protagonizado por Tiger Hu Chen, um artista marcial talentoso que, além de ser dublê de Reeves em “Matrix”, agora assume o papel principal como Tiger, um jovem praticante de Tai Chi em Pequim. Sob a tutela rigorosa de seu mestre, Tiger se destaca na arte, mas enfrenta um desafio interno: controlar a escuridão, ou “yin”, que habita dentro dele.
Essa vulnerabilidade é o que atrai a atenção de Donaka Mark, interpretado por Reeves. Donaka é um empresário sem escrúpulos que organiza lutas clandestinas, oferecendo a Tiger uma oportunidade aparentemente irrecusável: combates letais em troca de grandes somas de dinheiro. As lutas são gravadas e vendidas para uma clientela elitista, que busca entretenimento em batalhas reais. Para Tiger, o dinheiro ganho com cada vitória representa mais do que riqueza; é a chance de salvar o templo de seu mestre, que está sob ameaça de demolição.
Conforme Tiger se envolve cada vez mais nesse mundo sombrio, suas habilidades marciais se aprimoram, mas ele também começa a perceber mudanças inquietantes em si mesmo. A sensação de poder que vem com cada vitória começa a transformá-lo, despertando um lado sombrio e arrogante. Donaka, percebendo essa mudança, o explora, oferecendo desafios cada vez mais perigosos para saciar a demanda de seus clientes.
Paralelamente, a polícia, liderada pela inspetora Suen Jing Si, interpretada por Karen Mok, inicia uma investigação sobre as atividades ilegais de Donaka. Porém, eles logo descobrem que o esquema é muito mais profundo e complexo, envolvendo corrupção policial e indivíduos influentes que protegem os interesses de Donaka.
A jornada de Tiger o leva a um dilema moral e filosófico: ele deve decidir se permitirá que sua escuridão interior domine ou se conseguirá manter o equilíbrio entre o bem e o mal, simbolizado pelo equilíbrio entre “yin” e “yang”. Esse conflito interno é semelhante a figuras trágicas da cultura popular, como Anakin Skywalker, onde o poder e a arrogância conduzem o protagonista a uma espiral de autodestruição.
“O Homem do Tai Chi” se destaca por sua simplicidade nos diálogos e pela precisão com que as cenas de ação são apresentadas. As sequências de luta são um verdadeiro espetáculo visual, fruto do trabalho meticuloso de Yuen Woo-ping, o lendário coreógrafo por trás das icônicas cenas de “Matrix” e “Kill Bill”. Cada movimento é cuidadosamente ensaiado, proporcionando ao público uma experiência autêntica das artes marciais.
Além das cenas de luta, o filme oferece uma reflexão sobre a disciplina, a moralidade e a verdadeira essência das artes marciais, colocando o protagonista no centro de uma batalha interna que define seu destino. Mesmo com críticas variadas, o filme tem seu valor, especialmente para os entusiastas do gênero que buscam por uma representação fiel e detalhada das artes marciais. Disponível na Netflix, “O Homem do Tai Chi” é um convite para explorar a complexidade do espírito humano através do combate físico.
Filme: O Homem do Tai Chi
Direção: Keanu Reeves
Ano: 2013
Gênero: Ação/Drama
Nota: 9