Ao longo da vida, muitas variáveis influenciam a formação do caráter de uma pessoa. A relação com os pais, que são os primeiros a introduzir o indivíduo ao mundo e suas complexidades, certamente é um fator primordial. A maneira como uma criança é educada pode equipá-la melhor para enfrentar os desafios da vida — muitos dos quais são autoinfligidos, como bem sabem aqueles que já foram jovens — sem prejudicar os sentimentos e sensibilidades alheias.
A dureza da realidade nos ensina que o mundo não é o paraíso que imaginávamos durante a infância, cercados pelo ambiente seguro de casa e pela companhia de amigos, dos quais poucos realmente merecem o título. Esse desengano muitas vezes reforça em nós a falsa impressão de que o universo nos deve algo. Ser feliz exige passar por diversas experiências difíceis que, com o tempo e com o auxílio das reflexões de pensadores como Nietzsche, percebemos que serviram para nos fortalecer.
As dificuldades da vida, que frequentemente se manifestam de maneiras trágicas e ridículas, acompanham-nos desde o nascimento e se intensificam durante a adolescência. Esse período é retratado de maneira agridoce no filme “Justiceiras” (2022), dirigido por Jennifer Kaytin Robinson. A diretora aborda as dificuldades de amadurecer em um mundo competitivo e frequentemente infeliz.
Embora Robinson recorra a muitos clichês típicos do gênero, sua habilidade em conduzir o enredo com o roteirista Celeste Ballard mantém o filme interessante, ainda que um pouco longo. A naturalidade do elenco contribui significativamente para a superação dos obstáculos narrativos.
Robinson combina as inquietações do público-alvo com piadas que podem escapar à geração Z, mas que certamente divertem os quarentões. Um ícone dos anos 1990, Sarah Michelle Gellar, aparece como diretora da escola, desempenhando um papel que gera identificação imediata.
A história apresenta Drea Torres, interpretada por Camila Mendes, uma jovem latina que enfrenta uma situação embaraçosa em uma festa do namorado rico, Max Brossard, vivido por Austin Abrams. Após uma reação “incivilizada” a um incidente envolvendo redes sociais, Drea é enviada a um acampamento, onde conhece Eleanor, interpretada por Maya Hawke, iniciando uma trama de vingança.
O objetivo de Robinson é capturar o espírito do tempo e estimular discussões sobre a adolescência na era digital. O filme apresenta diversas subtramas que vão além da vingança por bullying, algo que quem cresceu nas décadas de 1980 e 1990 pode entender como parte natural do amadurecimento — desde que não ultrapasse os limites legais.
“Justiceiras” também homenageia “Segundas Intenções” (1999), uma referência clara no clímax do filme. No fim, jovens sempre serão seres complexos, buscando desesperadamente seu lugar no mundo. Seguindo o conselho de Nelson Rodrigues, recomendo-lhes que envelheçam rapidamente, pois, como disse o saudoso Godard, isso ajuda a lidar com a vida.
Filme: Justiceiras
Direção: Jennifer Kaytin Robinson
Ano: 2022
Gênero: Comédia/Romance
Nota: 8/10