Aeroportos são lugares engraçados. Quanta emoção pode existir na frieza de um saguão de embarque, materializada nas lágrimas de quem vai e volta, aparece e some, por sete dias, dois meses, cinco anos, para sempre? Enquanto isso, a vida trata de ir elaborando as respostas que julga conveniente, e é aí que “Amor de Meus Amores” passa a fazer sentido. Manolo Caro, uma das vozes mais altissonantes do novíssimo cinema latino, segue acertando em cheio com suas comédias leves, desafetadas, nas quais remolda clichês de forma a encontrar a saída para os deliciosos conflitos nem todos têm a sorte de viver.
A adaptação de Caro para “Um, Dois, Três para Mim e para Todos os Meus Amigos”, o espetáculo teatral que ajudou a projetar seu nome nas rodas de artistas e intelectuais de Guadalajara, no litoral sul do México, dispõe do estilo inconfundível que se vê em “Não Sei se Corto os Pulsos ou se Deixo Crescer” (2013), sua estreia como cineasta, malgrado dessa vez assuma a vontade de falar de amor — do amor intrincado, pleno de reveses, doído. E mesmo assim (ou por essa justa razão) fundamental.
O voo 455 para Madri é o princípio de uma aventura que ninguém sabe como pode terminar, nem mesmo os quatro protagonistas em torno dos quais gira frenético o eixo de o “Amor de Meus Amores”. Carlos vai a Madri para assistir ao casamento do melhor amigo, acompanhado pela noiva, Lucía, que permanece em terra firme. Nessa primeira cena, o diretor-roteirista já toma algumas providências quanto a tirar da cabeça de quem assiste qualquer ilusão de promessa de felicidade no relacionamento dos dois, uma vez que Lucía permite-se manipular, evidencia certo incômodo frente aos desmandos pueris do companheiro, mas lhe realiza vontades como essa, ir até o aeroporto só para que ele se sinta menos inseguro.
Sandra Echeverría e Juan Pablo Medina conferem uma tônica um tanto nonsense ao enredo, que continua com mais ímpeto quando Lucía atropela León. Um episódio feito do mais puro acaso, com Echeverría e Sebastián Zurita capturando sem esforço o olhar da audiência, passa a definir os caminhos e, especialmente, os desvios, deles e de Ana, interpretada por Marimar Veja, e Javier, de Erick Elias.
A facilidade com que Caro desata nós apertados nas duas subtramas paralelas que tomam corpo até poderiam fornecer base para uma crítica mais severa. A forma como ele as conduz, todavia, faz parecer que basta convocar os belos agudos de Margarita, a Deusa da Cúmbia em “Ninguém Conhece Meu Sofrimento” (2010) que tudo se resolve. O amor é mesmo o ridículo da vida.
Filme: Amor dos Meus Amores
Direção: Manolo Caro
Ano: 2014
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 8/10