Mike Cahill estreou no cinema em 2011 e, desde então, lançou quatro longas-metragens e dirigiu alguns episódios de séries. Antes de “Bliss: Em Busca da Felicidade”, todos os seus filmes foram amplamente elogiados, sendo o mais conhecido “O Universo no Olhar”. Com uma inclinação para a ficção científica e o mistério, Cahill utiliza esses gêneros como base para desenvolver a ideia por trás de “Bliss: Em Busca da Felicidade”, estrelado por Owen Wilson e Salma Hayek. Com um elenco desse calibre, seria difícil imaginar que o filme pudesse ser uma promessa frustrada. No entanto, a realidade é que ele não entrega tanto quanto promete.
Com uma premissa que remete a “Matrix”, o longa-metragem baseia-se na teoria da simulação. A história começa com Greg Wittle (Owen Wilson), um homem recém-divorciado, insatisfeito com sua vida e seu trabalho em um call center. Após ser demitido, Greg acidentalmente mata seu chefe em um acesso de raiva. Desesperado, ele foge para um bar nas proximidades, onde conhece Isabel (Salma Hayek), uma mulher enigmática que lhe revela uma nova perspectiva sobre o mundo.
Isabel afirma que o mundo em que vivem é uma simulação gerada por computador, e ela parece provar isso ao demonstrar poderes telecinéticos, como derrubar uma bandeja com a mente. Inicialmente cético, Greg começa a acreditar nas palavras de Isabel, especialmente depois que ela o ajuda a encobrir o assassinato de seu chefe, fazendo parecer que ele saltou pela janela.
Isabel leva Greg para seu abrigo improvisado e o ensina a desenvolver habilidades sobrenaturais semelhantes, utilizando pílulas chamadas Bliss. Segundo Isabel, essas pílulas não só conferem poderes telecinéticos, mas também têm a capacidade de transportar os dois para diferentes realidades. Ela insiste que a vida que Greg conhecia, incluindo sua família e seu trabalho, é apenas uma ilusão dentro da simulação.
O filme aborda temas complexos e profundos, utilizando a metáfora da simulação para explorar a percepção da realidade, a busca pela felicidade e a luta contra as adversidades da vida moderna. A substância Bliss, por exemplo, simboliza a busca incessante por felicidade e satisfação instantânea, representando as escapadas temporárias que as pessoas procuram, seja através de drogas, consumismo ou outras formas de gratificação imediata. Esse aspecto do filme critica a dependência moderna em tecnologias e substâncias que prometem uma felicidade superficial e efêmera.
Além disso, a narrativa toca em questões de saúde mental. A confusão de Greg entre o que é real e o que é simulado pode ser vista como uma metáfora para condições como esquizofrenia ou outros distúrbios psicológicos, onde a percepção da realidade está comprometida. Isabel e Greg representam indivíduos que lutam com problemas de saúde mental, usando a simulação como um escape de uma realidade que eles acham insuportável.
Enquanto Greg tenta se adaptar à nova vida ao lado de Isabel, ele é constantemente puxado de volta pelas lembranças de sua filha, Emily (Nesta Cooper), de quem ele sente uma saudade profunda. Emily representa a âncora de Greg à sua antiga vida e à sua humanidade. No entanto, Isabel insiste que Emily não é real, apenas uma ilusão criada pela simulação para mantê-lo preso em uma existência falsa.
A relação entre Greg e Isabel é uma metáfora para a desconexão emocional e a necessidade de conexão genuína. A jornada deles juntos reflete a busca por uma conexão autêntica em um mundo que frequentemente parece artificial e superficial. Isabel representa a tentação de abandonar responsabilidades e relações reais em busca de uma felicidade ilusória e fácil, enquanto Emily simboliza a verdadeira conexão e a responsabilidade que vêm com o amor e a família.
O filme também faz uma crítica à sociedade moderna e ao trabalho corporativo, mostrando como as pessoas podem se sentir presas em empregos sem sentido e rotinas repetitivas. Greg, antes de conhecer Isabel, vive uma vida vazia e sem propósito, simbolizando o desespero e a alienação que muitos sentem em suas vidas profissionais.
“Bliss: Em Busca da Felicidade”, no Prime Video, utiliza uma narrativa de ficção científica para abordar questões existenciais e filosóficas sobre a natureza da realidade, a busca por sentido e a verdadeira felicidade. Apesar das promessas e das estrelas de Hollywood no elenco, o filme oferece uma visão complexa e, às vezes, confusa, sobre as ilusões que construímos e as verdades que buscamos em nossas vidas cotidianas.
Filme: Bliss: Em Busca da Felicidade
Direção: Mike Cahill
Ano: 2021
Gênero: Drama/Romance/Ficção Científica
Nota: 7/10