O filme na Netflix baseado em clássico latino-americano traduzido para 46 idiomas e com mais de 50 milhões cópias vendidas Divulgação / Amaranta Films

O filme na Netflix baseado em clássico latino-americano traduzido para 46 idiomas e com mais de 50 milhões cópias vendidas

Coprodução entre México, França e Espanha, o drama “Ninguém Escreve ao Coronel”,  de Arturo Ripstein, foi adaptado da novela de Gabriel García Márquez pela esposa do cineasta e frequente colaboradora, Paz Alicia Garciadiego. A história é ambientada na década de 1950, no pós-Guerra dos Mil Dias, conflito civil que deixou como herança uma intensa instabilidade política e econômica na Colômbia, fazendo com que muitos veteranos de guerra sofressem com uma pobreza extrema, além da burocracia de um governo ineficaz.

Neste contexto, o Coronel (Fernando Luján) é um veterano que aguarda ansiosamente uma pensão prometida pelo governo e vai todos os dias até o porto para conferir se o correio trouxe a tão aguardada carta com o dinheiro. Sem nunca receber o montante, o Coronel permanece resiliente e perseverante, levantando todas as manhãs para aguardar a chegada do carteiro.

Por trás desta insistência diária, o Coronel vive em extrema pobreza com sua esposa, Lola (Marisa Paredes), uma idosa asmática, que apesar das intempéries se mantém leal e amorosa com o marido, demonstrando companheirismo mesmo nos momentos mais difíceis. Além disso, o casal ainda resiste a uma tragédia pessoal – a morte de seu jovem filho revolucionário, Augustín, pelas mãos da polícia.

A morte de Augustín traz ainda maior precariedade à vida do casal, já que também contavam com seu trabalho para se manter. Além disso, o luto deixa o casal em um cenário de total desespero e desamparo. O vazio de sua ausência é preenchido com a presença de um galo de briga, criado pelo Coronel. Além de um companheiro, o animal é uma promessa de melhoria de vida, já que o Coronel acredita que ele vencerá as rinhas, fazendo com que a família consiga algum dinheiro para pagar a hipoteca e comprar comida.

No entanto, a situação do Coronel e de Lola é tão precária, que até mesmo o que é gasto com comida para o animal prejudica no sustento familiar. Por isso, Lola defende que o marido venda o galo antes mesmo das rinhas, para que possa comprar alimento para os dois e saldar a dívida.

Quando o Coronel decide realizar o desejo da esposa e se desfazer do galo, sente um profundo vazio, não apenas pela desesperança do dinheiro que poderia ser ganhado com as rinhas, mas porque o animal simboliza força e resistência, além de fazer com que o Coronel se sinta menos solitário com a ausência do filho morto.

Comovente e impactante, o longa-metragem representa a luta pela dignidade, além de mostrar como parte da população é esquecida pelo governo e acaba invisibilizada. O filme também conta com Salma Hayek no elenco, interpretando Julia, uma prostituta que era apaixonada por Augustín e acaba sendo maltratada por Lola, por sua profissão e porque ela a considera culpada pela morte do filho.

“Ninguém Escreve ao Coronel”, que está disponível na Netflix, amplificou ainda mais a obra de García Marquéz no cenário mundial e, embora seja um trabalho bastante realista e crítico do autor, adiciona pequenos elementos de realismo mágico, típicos da obra do colombiano.


Filme: Ninguém Escreve ao coronel
Direção: Arturo Ripstein
Ano: 1999
Gênero: Drama
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.