Ganhador de 9 Oscars, filme considerado um dos mais lindos do século 20 está na Netflix Divulgação / Miramax

Ganhador de 9 Oscars, filme considerado um dos mais lindos do século 20 está na Netflix

“O Paciente Inglês” é um desses relatos envolventes sobre a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), carregando seus próprios e inesquecíveis detalhes. Anthony Minghella (1954-2008), hábil em transformar narrativas literárias em imagens e sentimentos que a página escrita frequentemente limita, adaptou o romance homônimo de Michael Ondaatje, lançado em 1992, em uma complexa história de ruína moral, amor e redescobertas pessoais, envolvendo personagens cujas dores se estendem ao longo dos anos, como se aguardassem um grande choque para se recompor.

Minghella reconhece nesses personagens, envoltos por uma luz salvadora que insiste em guiá-los, uma busca incessante por sentido em suas vidas enquanto o mundo oscila entre explosões. Em “O Paciente Inglês”, a guerra serve como o cenário perfeito para discutir a destruição que precede a redenção.

A estética é uma parte inseparável do núcleo da trama. A cada momento, o espectador reconhece com mais clareza o estilo de David Lynch em “Duna” (1984) nas paisagens desérticas entre o Egito e a Líbia, onde o avião do conde Laszlo de Almásy, um historiador interpretado por Ralph Fiennes, é derrubado por mercenários enquanto sobrevoa o norte da África.

Almásy parece estar sempre à beira de ser engolido pelas criaturas subterrâneas da ficção científica de Lynch, inspirada na obra de Frank Herbert (1920-1986) publicada entre 1965 e 1985, até ser salvo por beduínos e levado a um hospital de campanha, onde uma dedicada enfermeira cuida de numerosos feridos.

Hana, interpretada por Juliette Binoche, é a personificação da santidade e da sanidade possíveis em meio ao caos de um conflito global. Ao encontrar o enigmático paciente interpretado por Fiennes, uma nova dimensão se abre, conectando os pontos soltos da narrativa.

O diretor utiliza flashbacks para esclarecer a errante jornada de Almásy, que não tem nada de inglês. Minghella magistralmente equilibra as descrições concêntricas de Ondaatje, juntando dois núcleos distintos: o passado vibrante e colorido e o presente monocromático e sereno, com a ajuda da fotografia precisa de John Seale.

No primeiro núcleo, o casal formado por Kristin Scott Thomas e Colin Firth, amigos de longa data que inexplicavelmente decidem se casar, cruza o caminho de Almásy por razões que só o destino pode explicar. No segundo, Almásy sobrevive graças à caridade de estranhos, e David Caravaggio aparece repentinamente, trazendo complexidade à trama.

Caravaggio, assim como Almásy, é um personagem repleto de camadas, evocando o pintor italiano Michelangelo Merisi (1571-1610). Sua presença desperta curiosidade sobre a identidade do paciente, que se recupera numa velha fazenda em Livorno, à beira da estrada para Florença, ouvindo as crônicas de Heródoto (485 a.C. — 404 a.C.) lidas por Hana.

As solitárias jornadas de Almásy, Clifton, Caravaggio, Hana e Katharine são os fios com que Minghella tece as impressões de Ondaatje sobre a Segunda Guerra. O Paciente Inglês é um estudo sobre a agonia da existência, onde cada personagem se refugia em seus próprios sonhos. E nunca parece ser o suficiente.


Filme: O Paciente Inglês
Direção: Anthony Minghella
Ano: 1996
Gêneros: Romance/Guerra
Nota: 10