Adaptação de conto de Stephen King lido por mais de 50 milhões de pessoas, na Netflix

Adaptação de conto de Stephen King lido por mais de 50 milhões de pessoas, na Netflix

Apesar das complexidades da existência, há uma verdade inegável que permeia o dilema entre vida e morte: diante da adversidade, a maioria de nós opta pela vida, mesmo cientes da presença constante da inevitável finitude.

Num relato impregnado com a típica atmosfera de Stephen King, o diretor John Lee Hancock desvenda as obsessões de um dos mestres do terror, explorando facetas menos conhecidas do autor. “O Telefone do Sr. Harrigan” preserva a essência da escrita de King, enquanto mergulha em territórios mais sombrios e perturbadores do que muitas outras de suas obras adaptadas para o cinema.

A adaptação de Hancock do conto homônimo de King — parte da coletânea “If It Bleeds” (2020), que inclui também “Rato”, “Se Sangra” e “A Vida de Chuck” — explora a relação entre um garoto e o enigmático Sr. Harrigan, interpretado magistralmente por Donald Sutherland. Situada numa pequena cidade do Maine, terra natal do próprio autor, a trama segue a vida de Craig após a perda de sua mãe para o câncer, deixando-o e seu pai deslocados num ambiente hostil.

Harrigan, um bilionário recluso, observa o potencial de Craig e oferece-lhe um trabalho peculiar: ler para ele em sua mansão todas as terças-feiras. Esse acordo peculiar desencadeia uma relação complexa entre os dois, proporcionando a Craig acesso a um universo literário desconhecido e a Harrigan uma conexão com o mundo exterior.

Ao longo dos anos, a dinâmica entre Craig e Harrigan evolui, com Hancock habilmente tecendo uma narrativa sutil e envolvente. O filme explora temas como amadurecimento, lealdade e as complexidades das relações humanas, sem nunca perder de vista o aspecto sombrio e enigmático que permeia a obra de King.

“O Telefone do Sr. Harrigan” pode surpreender os fãs tradicionais de Stephen King, afastando-se das convenções típicas do gênero. No entanto, essa ousadia é também sua força, capturando a essência idiossincrática do autor de maneira singular e envolvente.

Essa abordagem única pode desconcertar os espectadores acostumados com as adaptações mais convencionais das obras de King, como “1922” (2017), dirigido por Zak Hilditch. No entanto, é justamente essa singularidade que torna “O Telefone do Sr. Harrigan” uma obra fascinante.

O filme mergulha nas profundezas da psique humana, explorando temas universais com uma sensibilidade peculiar. A relação entre Craig e Harrigan transcende o convencional, evoluindo para algo que vai além de mentor e aprendiz, avançando para um terreno mais sutil e complexo.

Além disso, “O Telefone do Sr. Harrigan”, na Netflix, oferece uma reflexão sobre a passagem do tempo e a natureza efêmera da vida. As mudanças na dinâmica entre os personagens ao longo dos anos refletem as transformações inevitáveis que ocorrem em todas as relações humanas.

Com uma narrativa envolvente e performances cativantes, o filme convida o espectador a adentrar um universo de mistério e intriga, onde as fronteiras entre o real e o imaginário se dissipam. É uma obra que desafia as expectativas e reafirma o talento tanto de Stephen King quanto de John Lee Hancock em criar narrativas profundamente envolventes e perturbadoras.


Filme: O Telefone do Sr. Harrigan
Direção: John Lee Hancock
Ano: 2022
Gêneros: Drama/Terror
Nota: 8/10

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