O filme épico da Netflix que é um espetáculo cinematográfico Divulgação / Lionsgate Entertainment

O filme épico da Netflix que é um espetáculo cinematográfico

A História é feita de personagens que, por absurdo que soe, não conseguem despertar o interesse das gerações que vêm depois, por um ou outro motivo. A escravização, símbolo de uma época morta, mas que, desgraçadamente, renasce segundo a conveniência dos déspotas de turno, ganharam as páginas dos livros como mulheres e homens que sofreram o maior opróbrio a que um ser humano pode sujeitar-se, mas não sem a justa resposta. Antes de mencionar a erupção do Vesúvio, em 79 d.C., no que hoje se conhece como a cidade de Nápoles, no sul da Itália, Paul W.S. Anderson faz de “Pompeia” o épico sobre a coragem, a força e o brio de um homem que, reprimido pelo terror de eras pouco civilizadas e seus poderosos, entendeu sua tragédia como o oxigênio que permitir-lhe-ia continuar vivo, sonhando com a vingança preparada pelos deuses.  

Os roteiristas Janet Scott Batchler, Lee Batchler e Michael Robert Johnson incluem no texto a abertura em que uma tela negra apresenta os dizeres de Plínio, o Jovem (61-114) a respeito da agonia e do caos que antecederam aqueles dias. A escuridão, dos olhos e do espírito, lança os celtas a uma revolta jamais vista, um levante contra a dominação romana e sua cólera assassina. Milo, em muitas ocasiões chamado apenas pelo epíteto que alude a seu povo, hábil com a espada e ainda mais com os cavalos, lidera a insurreição, mas fracassa. Sua sorte, diferentemente dos cadáveres que balançam junto com o ferro das armas tilintando numa árvore seca — uma das cenas mais tetricamente líricas do cinema, não por acaso muito parecida à que mostra o enforcamento dos filhos de Medeia na versão de Lars von Trier para a tragédia grega escrita por Eurípides (480 a.C. – 406 a.C.) em 431 a.C., vertida para o cinema em 1988 — é ser mandado a Pompeia, nos intestinos do Império Romano. 

Nos primeiro e segundo atos, Anderson combina os momentos em que o Celta se flagra mais uma vez escravizado, perdido em devaneios de liberdade, às interações de romantismo quase pueril com Cássia, a filha de Severus, o soberano de Pompeia, papel de Jared Harris. Mesmo sempre condicionada ao desempenho de um personagem masculino, a atuação de Emily Browning sobressai, em especial quando o vulcão se liberta e já não há nada mais a ser feito — essa imagem capta bem a alma do filme, e é lamentável que a hecatombe em si reste quase escondida, surgindo de chofre quase que só para constar. Em contrapartida, a sequência em que Milo e Atticus, o forçado negro vivido por Adewale Akinnuoye-Agbaje, ensaiam o combate na arena dos gladiadores para a luta final, ocasião em que um deles teria de morrer, é uma das mais bem coreografadas de todos os tempos numa história que aconteceu, mas também sugere o que poderia ter acontecido. 


Filme: Pompeia 
Direção: Paul W.S. Anderson 
Ano: 2014 
Gêneros: Drama/Ação/Aventura 
Nota: 8/10