O Ministério da Saúde adverte: alguns beijos viciam e causam total dependência

O Ministério da Saúde adverte: alguns beijos viciam e causam total dependência

Tem gente que é impossível esquecer. Tem encontros que são reencontros. A gente já sabe o que vai pensar, de que jeito vai falar. A conexão primária é por osmose, telepatia, depois vem o olhar, o toque mudo e escandaloso de quando as mãos se consagram. Gente que chega e fica. Fica por tempo indeterminado, sem nenhuma pressa de ir embora. Gente que vai caminhar pelos nossos pensamentos a vida inteira, ainda que a vida trate de afastar os nossos passos.

Tem gente que é impossível esquecer, porque tem olhos que falam o dialeto íntimo de um idioma que só nós conhecemos. Gente que tem um sorriso do qual somos os donos. Um riso só nosso e tão nosso, que a ninguém, nunca, foi ofertado. Tem gente que tem o verão na voz, nos poros, nos fios de cabelo e em todas as extremidades. Gente que o beijo tem propriedades alucinógenas e entorpecentes, que induz ao vício e à total dependência. Tem gente que é um perigo para a saúde do coração.

Tem gente que é impossível esquecer, porque tem o cheiro que nenhum perfume, jamais, vai conseguir reproduzir. A gente pode viajar, conhecer pessoas, mas ninguém será bom o bastante para apagar da memória olfativa aquele aroma febril. Gente que abraça e se funde como alquimia, que tem química, física, história, geografia e até mesmo matemática. Gente que combina mais que goiabada com queijo, arroz com feijão e café com leite.

Tem gente que é impossível esquecer, porque é insubstituível. Gente que vai rir conosco até chorar e depois vai chorar até achar graça. Gente que divide a almofada, o lençol, a garrafa, o pedaço de bolo, a conta, os palavrões mais baixos e as gargalhadas mais altas. Gente que não está por perto, porque está por dentro. Porque não tem encaixe melhor. Não tem quem nos compreenda tanto e nos aceite exatamente do jeito que somos.

Tem gente que é impossível esquecer, porque nunca vai embora. Está lá naqueles livros e poemas, naquelas músicas, na garrafa de vinho, nas fugas, no pouco tempo bem vivido. Tem gente que está em todos os lugares, mesmo naqueles nos quais nunca estivemos. Gente que faz de todo canto um lugar só nosso. Gente que vive uma história de amor contemporânea, dessas que a gente sabe que não tem final feliz, e, por isso, não quer que acabe. Tem gente que vive o romance a conta-gotas para que ele nunca termine.

Tem gente que é impossível esquecer, não importa o quanto se tenta. Tenta, porque sabemos que não nos pertencem, porque nossos caminhos se cruzam, mas não se entrelaçam, porque a vida exige muito dela e outro tanto de nós. A gente tenta, porque tem medo do fim, então fica na dúvida entre terminar de vez ou prolongar de vez. E fica com as duas opções.

Tem gente que é impossível esquecer…