Filme que arrecadou 4 bilhões de reais está no Prime Video, e você ainda não o assistiu Divulgação / Universal Pictures

Filme que arrecadou 4 bilhões de reais está no Prime Video, e você ainda não o assistiu

“Não há nada que um pai não faça pelo filho”. Assim começa “Velozes e Furiosos 10”, o mais recente produto da série capitaneada por Vin Diesel, muito menos famoso que Dominic Toretto, seu personagem há 23 anos numa das séries mais longevas e rendosas já feitas pelo cinema em todos os tempos — “Velozes e Furiosos 7” (2015), de James Wan, angariou mais de bilhão e meio de dólares em todo o mundo, façanha admirável sob qualquer ponto de vista.

Aqui, Louis Leterrier se empenha em transformar o que parece ser o epílogo da saga de um clã de arruaceiros motorizados em cidadãos exemplares, especialmente compungidos quando se trata de defender a família e os inúmeros apaniguados que completam a gangue. Lamentavelmente, ainda falta um bocado que “Velozes e Furiosos” exale seu derradeiro suspiro — “Velozes e Furiosos 10 – Parte 2” está previsto para estrear em 2025 —; enquanto isso, Leterrier replica os chavões que vêm dando certo nas mãos de vários diretores, o que, na verdade, passa em branco por fãs já entorpecidos pelo cheiro de borracha queimada que se mistura com adrenalina. 

Na introdução, Zach Dean, Justin Lin e Dan Mazeau põem na boca de Dom um compilado de recomendações melosas a Brian, o filho interpretado por Leo Abelo Perry, que ouve tudo com atenção, mas parece não se comprometer a botar em prática os ensinamentos paternos. Os roteiristas investem num tom melodramático que perdura por todas as duas horas e 21 minutos de projeção — o curioso é que o próprio Lin idealizou “Velozes e Furiosos 5: Operação Rio” (2011), e levou à tela “Velozes e Furiosos 9” (2021), mas abandonou o projeto após “divergências criativas” —, até (ou principalmente) o desfecho, imprimindo nas entrelinhas a ideia de êxodo, de busca por lugar no mundo, de penitência.

Se uma há uma coisa de fato estimulante são as cenas de Diesel e Perry, mas como esse recurso não é capaz de segurar todo o filme, tanto menos um filme desse jaez, Leterrier, conhecido por narrativas ágeis e pouco afeitas a elaborações intelectuais, se fixa nas perseguições automobilísticas e no conflito entre o anti-herói e o vilão Dante Reyes. 

Jason Momoa encarna um homem amargurado, dependente do pai e de uma mágoa doentia que viu ser alimentada em casa. O diretor é sutil ao explorar o temperamento mercurial de seu antagonista, conseguindo até fomentar um certo homoerotismo no jeito como Dante se dirige ao arquirrival. Tirando isso, tudo na mesma. 


Filme: Velozes e Furiosos 10
Direção: Louis Leterrier
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Crime
Nota: 7/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.